Capítulo 1:  A Origem do Universo na Mitologia e na Religião

O  UNIVERSO

TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM E EVOLUÇÃO

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        É interessante comparar a concepção de Jung à própria idéia dos criadores de mitos – como o poeta grego Hesíodo, do qual ainda falaremos mais adiante. Na sua obra “Teogonia”, em que descreve a origem dos deuses e do universo, Hesíodo se refere à deusa Mnemósine. Ela é uma personificação da memória ou da lembrança, mas não representa a memória individual ou pessoal, e sim o conhecimento universal. Ela é a mãe das nove Musas, que são as que inspiram todos os poetas. As musas podem dizer mentiras, mas sabem dizer a verdade. Elas conhecem não só o passado mas também o futuro. E é a elas que Hesíodo invoca:
Saudação, filhas de Zeus! Dai-me vosso canto que arrebata! Celebrai a raça sagrada dos imortais que vivem sempre, e que nasceram da Terra e do Céu estrelado, e da tenebrosa Noite e do Mar amargo. 
Dizei como nasceram os deuses e a Terra, e os Rios, e o imenso Mar que ruge furioso, e os astros resplandecentes, e, acima, o grande Céu, e os deuses, fonte dos bens que deles nasceram; e como, tendo partilhado as honras e riquezas desde a origem, eles tomaram o Olimpo de muitos picos.
Dizei-me essas coisas, Musas das moradas do Olimpo, e quais foram, no início, as primeiras dentre elas.

O Parnaso, de André Appiani  (1754-1817), representa as nove Musas inspirando um poeta. A terceira Musa da esquerda para a direita, com um compasso na mão apoiado sobre uma esfera celeste é Urânia, a Musa dos astrônomos.
        Em sua descrição, portanto, Hesíodo não atribui nem a si próprio nem à tradição o conhecimento dos mitos que apresenta. Eles estariam sendo transmitidos pelas Musas, filhas da Memória eterna, que sabe o passado e o futuro. Assim, o conhecimento dos mitos estaria em uma fonte impessoal, de onde fluem esses símbolos captados pelo poeta. Há grande semelhança entre essa descrição de Hesíodo e a concepção de Jung.

        Aceitemos ou não a idéia de um inconsciente coletivo ou de uma memória impessoal, o fato é que os mitos não são produções arbitrárias da imaginação humana, pois nesse caso não encontraríamos tantas semelhanças entre povos tão diferentes.

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