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CAPÍTULO 5 - O PENSAMENTO
MEDIEVAL E O RENASCENTISTA
5.1 SANTO AGOSTINHO
E A INTERPRETAÇÃO DO “GENESIS”
Santo Agostinho, o mais importante filósofo da Idade Média.
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No início da era cristã, a filosofia antiga já estava
em decadência. Durante o período da Idade Média, o
cristianismo se difundiu e implantou solidamente na Europa. Ao mesmo tempo
que se espalhava e atingia outras culturas, a tradição cristã
foi recebendo influências de diversas religiões e filosofias,
e estruturando seu próprio pensamento filosófico.
Na tradição cristã, o mais importante filósofo
do início da Idade Média foi Santo Agostinho, que viveu no
império romano entre 354 e 430 depois de Cristo. Uma de suas obras
mais conhecidas é chamada “Confissões”. Nesse livro, Agostinho
descreve sua própria vida e, nos três últimos capítulos,
apresenta uma famosa interpretação do Gênesis bíblico.
No pensamento de Agostinho, encontra-se uma grande influência da
filosofia grega. Antes de se tornar cristão, ele havia estudado
diversos filósofos, principalmente da tradição neo-platônica
(associada a Platão, com uma visão religiosa e mística).
No entanto, acima dessa influência, existe principalmente sua fé
cristã e seu esforço para atingir a verdade. O estilo do
livro é extremamente original: Agostinho dialoga com Deus, à
medida que escreve: |
Eu gostaria de ouvir
e compreender como, no início, Vós fizestes o Céu
e a Terra. Moisés escreveu isto, escreveu e partiu, foi-se de Vós
para Vós. Ele não está agora diante de mim. Se ele
estivesse, eu o seguraria e lhe pediria e imploraria por Vós a revelar-me
essas coisas, e abriria os ouvidos de meu corpo aos sons que brotariam
de sua boca. E se ele falasse em hebraico, esses sons atingiriam meus sentidos
em vão e nada disso tocaria minha mente. Mas se falasse em latim,
eu compreenderia o que ele dissesse. Mas como eu poderia saber se ele falaria
a verdade? ... Realmente dentro de mim, no interior, na câmara de
meus pensamentos, a Verdade – nem em hebraico, nem em grego, nem em latim,
nem em uma língua dos bárbaros, sem órgãos
de voz ou língua, sem som de sílabas – diria: “Isso é
verdade”. E eu então diria, com total confiança, ao Vosso
homem: “Tu dizes a verdade”. Como eu não posso interrogá-lo,
eu Vos peço, a Vós, Verdade, que o enchestes e o fizeste
falar a verdade, a Vós, meu Deus, eu peço, perdoai meus pecados;
e Vós, que permitistes àquele Vosso servidor falar essas
coisas, dai-me também permissão para compreendê-las.
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