Capítulo 6: O Pensamento Científico Moderno e a Origem do Mundo

O  UNIVERSO

TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM E EVOLUÇÃO

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        A proposta de Descartes adota a teoria de Copérnico, colocando a Terra como um dos planetas do sistema solar; considera cada estrela como sendo semelhante ao Sol e podendo ter também planetas girando ao seu redor; explica a coincidência dos movimentos de todos os planetas serem no mesmo sentido; explica as diferenças de períodos dos movimentos dos diferentes planetas, levando em conta que o turbilhão tem diferentes velocidades a diferentes distâncias do centro; explica os cometas, como planetas que passam de um turbilhão para outro; explica as manchas solares; explica a formação de planetas e de satélites; explica fenômenos que ocorrem na Terra, como vulcões, terremotos e formação do relevo terrestre. É uma teoria muito mais rica do que qualquer das propostas antigas, e os mecanismos propostos para cada fenômeno são bastante compreensíveis e aceitáveis, para a época. Por tudo isso, o modelo cosmogônico de Descartes teve enorme sucesso, no século XVII.

        O projeto de Descartes era extremamente ambicioso. Ele queria desenvolver uma teoria completa, de todas as coisas do universo, explicando como elas surgiram. Há alguns pontos que ele não discute: a origem da vida e do homem, por exemplo. Mesmo assim, é uma proposta extremamente ampla. De um modo geral, as teorias posteriores se concentraram em pontos mais específicos: ou o desenvolvimento da Terra, ou o desenvolvimento dos astros, ou algum outro ponto.

        Como no caso das antigas teorias atomistas, a proposta de Descartes praticamente ignora o papel de Deus no universo. Ele supõe que a única contribuição relevante de Deus ocorreria no início, criando a matéria inicial, que preenche todo o espaço, quebrando-a e colocando-a em movimento. Todo o restante ocorreria sem intervenção divina, como conseqüência apenas das leis naturais. É, portanto, em última análise, uma teoria materialista da origem do universo, e foi assim considerada em sua época.
 

    6.5 A CRÍTICA DE NEWTON À TEORIA DE DESCARTES
 

Isaac Newton, um opositor da idéias de Descartes.
        Apesar de todas as suas virtudes e do seu interesse, a teoria cosmogônica de Descartes tinha um grave defeito, que foi apontado no final do século XVII por Newton. Ela não era uma teoria com base matemática, e toda a física estava, nesse período, passando por uma reformulação que exigia que as teorias permitissem fazer cálculos e previsões quantitativas. Embora o próprio Descartes fosse um importante matemático, sua física era qualitativa. E isso deixou muitos pontos fracos em seu modelo dos turbilhões.

        Há um intervalo de mais de 40 anos entre a publicação do trabalho em que Descartes expõe sua teoria (os “Princípios da Filosofia”, de 1644) e a obra em que Newton o critica (os “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, de 1687). A diferença de estilo é enorme. A obra de Newton é toda desenvolvida de forma matemática, com demonstrações extremamente difíceis, mesmo para um cientista atual. Na época em que foi publicada, é bem provável que menos de uma dúzia de pessoas tenha conseguido ler e entender o livro inteiro.

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