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Esses quatro elementos estão distribuídos, no universo, dos
mais grosseiros para os mais puros, de baixo para cima: a terra fica no
centro, cercada pela água, que por sua vez é cercada pelo
ar e que tem no seu alto o fogo celeste. Simbolicamente, aquilo que é
mais alto é também melhor. Portanto, o céu é
o padrão de perfeição e o fogo é o elemento
superior a todos os outros.
De fato, entenda bem
que o Céu é o pai, princípio, natureza, fonte, origem
dos elementos; e que esse mesmo Céu gerou no início a Terra,
no lugar mais afastado dele próprio, no centro do mundo. Depois,
gerou a água, depois o ar e, no alto, ofogo... Por essa razão,
o fogo é o melhor dos elementos, pois é o único que
retorna à sua origem e capta o seu princípio, o único
que chega à maior proximidade de seu pai Céu e lhe oferece
beijos incessantes.
Bovelles comenta que os minerais não possuem cabeça; os vegetais
possuem a “cabeça” para baixo, pois alimentam-se pelas raízes
e as raízes estão em baixo e não em cima; os animais
possuem a cabeça para o lado; e o homem possui a cabeça em
cima de tudo.
A cabeça do Homem,
por natureza, ocupa soberbamente o topo do corpo; voltada para o céu,
ela é feita para contemplar e examinar as extremidades do mundo,
quero dizer: os corpos siderais ou celestes.
Assim como o fogo retorna aos céus, a razão humana é
feita para retornar também aos céus, para contemplar e compreender
o universo. No entanto, retornar ao Céu não é afastar-se
de si mesmo, pois a essência do homem é igual à essência
do universo. Por isso, voltar-se para dentro é a mesma coisa que
voltar-se para fora, para o mundo celeste:
Ele [o sábio]
não se ausenta de si mesmo, ele não se abandona, só
ele pode se recolher em si próprio, ele se torna constantemente
o seu próprio espelho; ele se abraça a si mesmo, ele se volta
para si, circularmente... Ele mora ao mesmo tempo no mundo sensível
e no mundo intelectual. Pelo seu corpo, é verdade, ele vive sobre
a terra com as feras, mas por seu espírito que se abre aos céus
ele percorre caminhos celestes.
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