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Nessas frases, de grande dificuldade, Timeo estabelece uma distinção
essencial. Segundo ele, existem algumas coisas que não se transformam,
que são sempre iguais e que podem ser captadas pelo pensamento,
pela razão. Essas são as coisas sobre as quais se pode estabelecer
um conhecimento seguro, correto. Por que? Porque se uma coisa estiver sempre
mudando, em cada instante é preciso afirmar uma coisa diferente
sobre ela.
Ao invés de dizer que uma pessoa “é” feliz, é mais
correto dizer que ela “está” feliz, pois a felicidade não
é algo permanente e por isso está sempre se transformando.
Quantas folhas possui uma árvore? O número de folhas está
sempre mudando, por isso, ao invés de dizer que o número
de folhas “é” x, seria mais correto dizer que o número de
folhas “está” x. E como esse número está sempre mudando,
não se pode possuir um conhecimento racional, seguro, sobre isso.
Apenas aquilo que não muda, que sempre “é”, pode ser conhecido
pela inteligência e pela razão. Sobre aquilo que muda continuamente,
pode-se apenas ter um “conhecimento” temporário, imperfeito, provável:
a opinião. |
Página de uma tradução medieval do Timeo, que
explica o eclipse solar.
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No entanto, há mais coisas nas obscuras frases do Timeo. Ele também
afirma que tudo aquilo que é captado pelos sentidos está
sempre se transformando. Ora, se tudo o que vemos no universo está
sempre mudando, somente é possível ter opiniões sobre
o universo e não um conhecimento, propriamente dito. Assim, nega-se
toda a possibilidade de uma ciência segura, sólida, sobre
o mundo material.
Portanto, Sócrates,
se, entre as muitas opiniões sobre os deuses e a geração
do universo, não formos capazes de apresentar noções
que sejam totalmente exatas e consistentes umas com as outras em todos
os aspectos, não se surpreenda. Será bastante, se apresentarmos
probabilidades tão razoáveis quanto outras quaisquer; pois
devemos lembrar que eu que falo, e vocês que são juízes,
somos apenas homens mortais. Devemos aceitar o mito que é
provável e não investigar mais além.
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