Capítulo 3: O Pensamento Filosófico e a Origem do Universo

O  UNIVERSO

TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM E EVOLUÇÃO

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        Epicuro procura apresentar argumentos muito claros a favor do atomismo. 
Em primeiro lugar, nada nasce do nada; pois [se isso fosse possível] qualquer coisa nasceria de qualquer coisa, sem nenhuma necessidade de sementes geradoras. E se aquilo que termina se acabasse no nada, tudo já teria sido destruído, pois não existiria aquilo em que tudo se dissolve. 
        O argumento é abstrato, mais muito interessante. Ele começa lembrando a existência de regularidades na natureza. Como Lucrécio comenta: não vemos homens brotando do mar, nem peixes surgindo da terra, nem pássaros eclodindo no ar. No entanto, vemos que cada coisa nasce a partir de uma determinada origem, e não de outra. Cada árvore dá sempre o mesmo tipo de fruto. Mas se fosse possível alguma coisa surgir a partir do nada, poderia aparecer, de repente, a qualquer momento, uma rosa à nossa frente. Isso não acontece. Cada coisa tem uma causa própria, e essa causa é alguma coisa que existe. Cada coisa que existe vem, portanto, de outra coisa que também existe.

        Por outro lado, nada pode se aniquilar, desaparecer no nada, deixar de existir sem deixar nada em seu lugar. Se isso fosse possível, o número de coisas do universo iria diminuindo, diminuindo, até acabar – e, se pensarmos em um tempo infinito, no passado, tudo já teria desaparecido, pois já houve um tempo suficiente para que tudo sumisse. Portanto, assim como nada pode surgir do nada, o contrário também não pode acontecer: uma coisa não pode desaparecer, sem deixar nada no seu lugar.

        Em seguida, Epicuro propõe os princípios de que existem corpos materiais e existe o vazio. A existência da matéria, diz ele, é assegurada pelas nossas sensações. Quanto ao vazio ou vácuo, nós não podemos vê-lo ou senti-lo, mas Epicuro dá uma razão para aceitar que ele existe: se só existisse matéria, preenchendo todo o espaço, como as coisas poderiam se mover? Se tudo estivesse cheio, não haveria um modo de algo começar a se mover, pois não haveria um lugar para onde ele pudesse ir, que já não estivesse cheio.

         Lucrécio adiciona vários outros argumentos para mostrar a existência de espaços vazios no meio da matéria: a umidade é capaz de atravessar as rochas, gotejando nos tetos das cavernas; o alimento se distribui pelo corpo dos seres vivos, por todas as partes, fazendo crescer os ossos e todas as partes; esses e outros exemplos mostram que a matéria pode atravessar a matéria – e isso só pode acontecer se há espaços vazios no meio daquilo que nos parece sólido.

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