Capítulo 2: Medicina Mágica e
Religiosa

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         O que, exatamente, ocorre durante o contágio de uma doença, segundo essas concepções primitivas? Há muitos modos de tentar explicar o que ocorre. Em alguns casos, supunha-se que o contágio introduziu alguma coisa maligna dentro da pessoa - um espírito, um objeto enfeitiçado (como pontas de flecha mágicas), ou algo de outro tipo. Nesses casos, a cura exige que se retire do doente aquilo que penetrou nele.

         Os feiticeiros procuram retirar o agente maligno através da transpiração, pela massagem, ou sugando, com a boca ou ventosas, os objetos mágicos do corpo. Os banhos purificadores também eram recomendados em muitos casos. Podem também ser utilizadas substâncias que produzam vômito, purgantes, ou mesmo extrair as substâncias malignas através de sangria. Em casos especiais, é necessário abrir o crânio do doente, para que possam sair pelo orifício as causas que produzem fortes dores de cabeça. Quando a doença é produzida pela entrada de um espírito maligno, ele deve ser afastado por preces mágicas, pelo barulho (tocando tambores) ou mesmo batendo no corpo do doente.
         Em outros casos, supõe-se que o contágio, ao invés de introduzir algo, retirou alguma coisa da pessoa - sua vitalidade ou sua alma. Nesse caso, o curandeiro deve procurar localizar a alma do doente, que pode ter sido roubada e guardada por um feiticeiro dentro de uma cumbuca, ou pode ter sido levada para o mundo dos espíritos, por algum demônio.

         De um modo geral, os curandeiros tinham sucesso e curavam seus doentes. Pode-se entender a eficácia de seus tratamentos a partir de conhecimentos modernos, pois eles utilizavam muitos medicamentos de grande poder, além de práticas importantes como a dieta. Por outro lado, é inegável o efeito real produzido pela sugestão sobre os doentes, e todo o tratamento mágico tendia a fortalecer a vontade e a certeza de se curar do doente. O próprio processo de confissão, que precedia o ritual de cura, pode ser considerado como benéfico, por aliviar eventuais culpas do doente e colocá-lo em harmonia psicológica com seu meio social.

   Ainda hoje, tribos africanas realizam rituais para a cura, utilizando tambores, máscaras e imagens de divindades, como a que vemos acima.
            Muitas dessas concepções "primitivas" sobrevivem até hoje, em meio às sociedades mais cultas. Na tradição judaico-cristã, sobreviveu até hoje a idéia de que as doenças podem ser castigos divinos pelos pecados cometidos pelo doente. Nas religiões afro-brasileiras, a presença constante da feitiçaria e de práticas mágicas de cura é conhecida por todos. Ao longo de toda a história da humanidade, como veremos, essas e outras concepções "primitivas" sempre estiveram presentes. 

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