Escolhemos como símbolo para o Grupo de História e Teoria da Ciência um famoso desenho de Albrecht Dürer (1471-1528), datado de 1515. O rinoceronte de Dürer é um marco da iconografia científica. Até o século XV, os desenhos de animais e outros objetos naturais eram pouco detalhados, não possuíam perspectiva e davam uma fraca idéia do original. Dürer e outros artistas conseguiram transformar totalmente a representação da natureza.
O caso deste desenho é extremamente curioso. Dürer jamais viu um rinoceronte ao vivo. Não era comum aparecerem rinocerontes na Europa, mas em 1515 o rei Manuel I de Portugal havia trazido um da Índia (assim como um elefante), e a notícia causou grande impacto. Os dois animais foram enviados de Lisboa para Roma, de navio, como presente para o papa Leão X, mas o navio com o rinoceronte afundou, e o animal morreu. Dürer realizou seu desenho baseado em um esboço feito por um português, conseguindo apesar disso dar à figura uma aparência real, viva, tridimensional.
O desenho não representa de modo totalmente correto o animal. Dürer, baseando-se em sua fonte, desenhou o corpo do animal como se fosse coberto por placas duras (um tipo de armadura) e colocou nas costas do rinoceronte um pequeno chifre que aponta para a frente, que não existe. O serrilhado na parte de trás do animal também não existe, as patas são um pouco diferentes, não possuem escamas, etc. Apesar disso, o desenho é extraordinário, e foi reproduzido como se fosse uma autêntica representação do rinoceronte, até o século XIX.
Para comparação, apresentamos ao lado um desenho mais fiel, publicado na Histoire naturelle de Buffon, em meados do século XVIII.