Capítulo 5: O Pensamento Medieval e o Renascentista |
TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM E EVOLUÇÃO |
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Agostinho conclui que Deus falou, e fez o universo pela palavra. Mas a
palavra de Deus precisa ser compreendida de um modo especial. Não
pode existir o som sem que exista matéria. E existe um problema
filosófico ainda mais grave: Deus não pode mudar, pois é
perfeito; e se ele fizesse em um momento algo que não fazia antes,
isso significaria uma mudança. E toda mudança significaria
ele se tornou diferente e que não é eterno. Por isso, ele
não pode falar em um momento algo que não havia falado antes.
Agostinho conclui que a “palavra” de Deus é eterna. Ela representa
a própria sabedoria e poder de Deus, que existem sempre. Assim sendo,
Agostinho interpreta a criação do universo pelas palavras
de Deus como significando que o princípio de tudo é a sabedoria
e que Deus criou o Céu e a Terra pela sabedoria.
Há um curioso trecho em que Agostinho discute a questão: “O que Deus estava fazendo antes de fazer o Céu e a Terra?” Se Deus estava desocupado e não fazia nada antes, então por que motivo não continuou assim? Se Deus é eterno e não pode mudar, ele não pode ficar inativo antes e depois criar o universo. Ou ele é sempre ativo, ou sempre inativo. Agostinho diz que já ouviu uma pessoa dar a resposta: “Ele estava preparando o inferno para os que querem penetrar nos mistérios”. Mas o próprio Agostinho diz que essa não é uma resposta adequada. Ele responde: se entendermos por Céu e Terra todo o universo, todas as coisas criadas, então antes de fazer o Céu e a Terra Deus não fez nada, pois tudo o que ele tivesse feito já seria uma coisa criada e, portanto, seria parte do universo. No entanto, isso leva de novo ao problema inicial: como é possível que Deus não faça nada e depois comece a fazer o universo? Agostinho responde que há uma noção errada envolvida na própria pergunta. Pois só se pode pensar no tempo que existiu antes do universo, e durante o qual Deus ficou inativo, se esse tempo já existia antes do universo. E se esse tempo já existia, ele foi criado por Deus e Deus não estava inativo. Mas se o tempo não havia sido criado, não existiu um tempo antes do universo e não houve então um “antes” do início, durante o qual Deus ficou desocupado. Agostinho desenvolve então a concepção de que Deus está fora do tempo. A eternidade não corresponde a uma duração infinita de tempo, mas a uma existência fora do tempo, sem passado ou futuro, sempre presente, sempre hoje. Embora de um modo muito mais sofisticado e filosófico, a idéia que está por trás de toda a concepção de Agostinho tem semelhanças com o pensamento mitológico primitivo. Pois, como vimos, o “tempo primordial” no qual o mundo foi criado, na mitologia, é na verdade considerado como algo que está fora do tempo comum. A criação do mundo é alguma coisa que está em “outro lugar”, e que pode ser revivida, no ritual, exatamente porque, hoje, agora, é possível ter acesso a esse tempo primordial, fora do tempo, o tempo de todos os princípios. De forma análoga, Deus e a palavra de Deus (que representa seu poder, sabedoria, verdade e o início do universo) estão presentes, fora do tempo, e é possível ter acesso a essa sabedoria, e conhecer o princípio do universo, voltando-se para Deus. |
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CRONO LOGIA |