Capítulo 4: Medicina Romana

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Segundo Plínio, Pompeius, que venceu Mitrídates, coletou seus remédios e seus escritos, que foram traduzidos para o latim por Lenaeus. Esse teria sido o primeiro trabalho médico original, em latim.

         Um primeiro aspecto interessante no estudo dos venenos é que uma pessoa pode se acostumar ou habituar aos mesmos, de tal forma que depois eles não façam mais efeito (fenômeno que será, muito depois, chamado de "imunização"). Sabia-se, na época, que algo semelhante podia ocorrer com algumas doenças. Na peste de Atenas, que já foi descrita antes, as pessoas que adquiriam a doença e escapavam com vida (como o próprio Tucídides), ficavam protegidas contra a peste: podiam ter contato com os doentes, sem correr risco nenhum.

         É interessante assinalar que muitos povos "primitivos" já conheciam o processo de habituação contra venenos. Em 1560, José de Anchieta descreve como os indígenas brasileiros praticavam a habituação ao veneno das cobras venenosas. Ao se referir à jararaca brasileira, Anchieta afirma que os índios, quando "mordidos sucessivamente, não só não correm risco de vida, como mesmo sentem menor dor, o que tivemos mais de uma vez ocasião de observar".
 

Desenho de um manuscrito árabe sobre remédios, mostrando a coleta de cobras para a preparação de antídotos.
         Da mesma forma, no século XIX, o coronel português M. de Serpa-Pinto conta o modo pelo qual foi vacinado pelos Vatuas, da costa oriental da África, contra as serpentes: eles extraiam o veneno e preparavam com ele e com substâncias vegetais uma pasta escura que era introduzida em incisões feitas na pele. A operação era muito dolorosa e era seguida por um inchaço que durava uma semana. Os Vatuas asseguram que o procedimento produzia imunização contra a picada de serpentes.

         Além desse aspecto, o estudo dos venenos levou à busca de antídotos - remédios específicos contra cada tipo de veneno, capaz de anular os seus efeitos. Essa idéia de antídoto era completamente diferente da concepção hipocrática dos remédios, que se destinavam a reestabelecer o equilíbrio dos humores corporais e não a combater alguma substância estranha que entrou no organismo.

         Um terceiro aspecto importante é que, na busca de antídotos eficazes, começou a elaboração de misturas extremamente complexas de muitas substâncias diferentes - enquanto que, inicialmente, buscava-se utilizar apenas uma ou duas substâncias, capazes de produzir vômito, evacuação, etc.

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