Capítulo 3: Medicina Grega

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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Ilustração japonesa do processo de sangria.
         Uma vez que se conheça cada doença, pode-se estabelecer racionalmente o processo de sua cura. Se um humor está em quantidade excessiva, ele deve ser reduzido pela expulsão, com diuréticos, vomitórios, sangrias, clisteres, etc. Se o que está desequilibrado não é a quantidade, mas a qualidade de um humor (por exemplo, se a fleuma está "muito fria"), a terapia deve consistir em alterar essa qualidade, pelo seu oposto. Aquilo que está frio deve ser aquecido, o que está seco deve se tornar úmido, etc. O "aquecimento" pode ser produzido, por exemplo, por banhos quentes ou banhos de vapor, por alimentos "quentes" (com muito tempero), pelo vinho (que dá sensação de calor), etc.

         Em toda essa teoria, não há lugar para um conceito como o de contágio. As influências externas podem produzir doenças apenas através do frio, calor, umidade ou secura. Não se pode imaginar que o toque de um doente possa alterar essas qualidades em uma pessoa sã e, por isso, o contágio é impensável, irracional e não poderia existir. Na corrente médica racionalista, portanto, as epidemias só podem ser devidas a uma influência externa (climática) que atinge ao mesmo tempo um grande grupo de pessoas. Sendo mais sistemática do que o pensamento hipocrático, a medicina racionalista se torna ainda mais fortemente incompatível com as "superstições" sobre contágio.

         A medicina racionalista não foi a única corrente médica posterior a Hipócrates. Houve outras teorias opostas e existiu também uma importante corrente empírica que negou totalmente a possibilidade de se formular qualquer teoria para explicar a prática médica.

         Não é possível neste livro, no entanto, explorar todas as correntes que existiram. Nenhuma delas deu uma contribuição importante para a compreensão do contágio; e a corrente que predominou e teve mais forte influência nos séculos posteriores foi a racionalista. Por isso, vamos nos concentrar em sua seqüência.

         A medicina racionalista de base hipocrática teve seu ápice nas obras de Galeno. Cláudio Galeno nasceu em Pérgamo, no ano 129 da era cristã. Morreu aos setenta anos, em 199 ou 200, provavelmente em Roma. De certa forma, pode-se dizer que ele era romano, pois viveu nesse império. No entanto, toda sua formação se baseou na medicina grega, e ele preferiu escrever suas obras em grego - não em latim. Pode, por isso, ser considerado um continuador da tradição médica grega.

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