Capítulo 2: Medicina Mágica e
Religiosa

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         A "lepra" das roupas e das casas era apenas uma concepção desenvolvida por analogia com a lepra das pessoas. Não se tratava de um conceito semelhante ao nosso, de que um objeto pode ser veículo de contágio de uma doença. As roupas e casas podiam ficar "leprosas" sem nenhum contato de pessoas doentes.

         Quando uma pessoa se curava de "lepra", ela não ficava automaticamente pura. Era necessária uma série de rituais religiosos para que ela se livrasse da sua impureza. O ritual era extremamente elaborado. A pessoa deveria levar ao sacerdote dois pássaros. Um deles era morto em sacrifício, e com seu sangue (e outras substâncias) tingia-se o segundo pássaro. A pessoa era aspergida 7 vezes com esse sangue, e depois o pássaro era solto, para voar. O significado simbólico parecia ser o seguinte: pelo sangue derramado sobre o pássaro e sobre a pessoa impura, eles se uniam; o pássaro passava a representar a própria pessoa. Quando ele era deixado livre para voar, ele levava embora as impurezas da pessoa.

         No entanto, o ritual não terminava aí. A pessoa devia lavar suas roupas, raspar todos os pelos do corpo, lavar-se, e aguardar durante 7 dias. A raspagem permitia verificar se realmente não havia mais manchas ou sinais da doença. Após os sete dias, a pessoa devia novamente raspar todos os pelos e se lavar. Era então feito um sacrifício de um carneiro, que era oferecido à divindade pedindo-se que ele fosse aceito em pagamento pelo delito ou pecado cometido pela pessoa. Simbolicamente, isso significava que a lepra tinha sido um castigo por algum delito ou pecado, e que só agora, penitenciando-se e pagando por esse delito ou pecado, a pessoa ficava realmente pura.

         Há um aspecto bastante interessante nesse ritual, e que aparece também em outros semelhantes: a transmissão da impureza de uma pessoa para um animal. O Levítico prescreve um ritual anual, de purificação de todo o povo. Nesse ritual, tomam-se dois bodes. Um deles é morto. O sacerdote transfere todos os pecados do povo para o segundo bode, que é o "bode expiatório" . Ele é levado para o deserto e é solto. Dessa forma, as impurezas de todas as pessoas foram embora. A pessoa que conduz o bode para o deserto precisa se purificar, pois alguma impureza pode ter passado para ela, ao conduzir o animal carregado de pecados. 

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