Capítulo 8: Miasmas ou Microorganismos?

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Em 1850, Rayer e Davaine observaram o sangue de carneiros mortos pelo carbúnculo. Observaram que os glóbulos vermelhos se aglutinavam em massas irregulares; havia além disso no sangue pequenos corpos filiformes, tendo cerca do dobro de comprimento de um glóbulo sanguíneo. Esses pequenos corpos não apresentavam movimento espontâneo. Podiam ser bacilos, mas podiam também ser partículas inanimadas.

         Os dois pesquisadores resolveram inocular animais sadios com o sangue de carneiros doentes. Após alguns dias, os animais inoculados morreram. Examinando o seu sangue, Davaine e Rayer notaram a mesma aparência observada antes. Como a quantidade de sangue injetada era pequena e o sangue dos animais inoculados estava repleto pelos pequenos bastões, parecia que eles tinham se reproduzido, tratando-se portanto de seres vivos. No entanto, tudo poderia ser também interpretado de outra forma. Poderia ser que alguma substância do sangue transmitisse a doença, e que a doença, por sua vez, produzisse esses bastões. Eles poderiam não ser vivos e ser apenas um efeito da doença.

         O próprio Davaine, em um livro que publicou em 1860, mostra-se cético com relação à influência patogênica de microorganismos. Ele afirma que vários pesquisadores procuraram detectar seres microscópicos - especialmente infusórios - em animais contaminados por diversas doenças, sem encontrá-los. Nessa época, ele acredita que apenas os vegetais microscópicos, como os fungos, poderiam produzir doenças:

Os corpos organizados reconhecidos até agora que causam doenças contagiosas pertencem exclusivamente ao reino vegetal; a muscardina que grassa sobre os bichos da seda, a doença da videira e a das batatas, são devidas ao desenvolvimento e à disseminação de um vegetal. (...) Deve-se crer que se os miasmas contagiosos pertencem aos seres organizados, são vegetais; mas antes de se admitir a influência perniciosa desses seres, deve-se pelo menos reconhecer a sua existência.
        A cautela existente nesse período tinha um aspecto positivo: procurava-se evitar a aceitação de hipóteses sem fundamentação. Era necessário apresentar evidências mais sólidas, para convencer a comunidade científica e médica da existência de uma relação de causa e efeito entre seres microscópicos e doenças. Isso só ocorreu mais tarde.
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