Capítulo 7: A Varíola e a Descoberta da Vacinação

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Independentemente da origem da doença, o efeito da vacinação era tão misterioso quanto o da variolação. Por que motivo uma pessoa que já teve uma doença fica protegida contra essa enfermidade? Por que isso ocorre no caso da varíola e não ocorre no caso de outras doenças, que podem atacar várias vezes a mesma pessoa? O próprio Jenner não tenta explicar isso. Ele se contenta com o estabelecimento de que a vacinação funciona e é segura.

         O químico Humphry Davy propôs, em 1811, uma explicação: um veneno poderia combater outro semelhante. Assim, se a pessoa já tivesse dentro de seu corpo um veneno (da cow-pox), esse veneno impediria a ação da varíola humana. Nessa hipótese, está implícita a suposição de que a varíola é transmitida por um tipo de veneno - o que todos aceitavam na época. Como vimos, o próprio Jenner fala muitas vezes sobre o "vírus" da varíola e da cow-pox, o que significava, na época, a mesma coisa que veneno.
 
         Davy sugeriu que um processo semelhante à vacinação poderia ser utilizado com outras doenças que também sejam transmitidas por venenos. Ele se refere especificamente à raiva ou hidrofobia, que também passa de um cão para outro, pela mordida. George Pearson, por sua vez, havia sugerido, antes disso, que se poderia desenvolver um processo semelhante de proteção contra a sífilis - que também é contagiosa.

         Nessa época, começou a se formar uma nebulosa associação entre essas várias idéias: uma enfermidade contagiosa que só ataque uma vez cada pessoa é transmitida por um vírus e deve poder ser evitada por um processo semelhante à vacinação.

         Nem Jenner, nem os outros autores da época, se preocuparam em explicar como o "vírus" da varíola se multiplica dentro do organismo. Ninguém sugeriu, na época, que a doença pudesse ser causada por microorganismos.
 


No século XIX, a vacinação utilizava material tirado das feridas das vacas, que era inoculado diretamente nas pessoas.
         A vacinação é um exemplo clássico de técnica médica que surgiu sem nenhuma explicação, mas que funcionou. De certa forma, ela representa um retorno à humildade de Hipócrates, que não pretendia desenvolver uma ciência teórica e sim uma técnica, uma arte empírica de curar.

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