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Kant propõe,
então, que todas as estrelas que vemos pertencem a uma espécie
de sistema solar gigantesco. Nesse sistema, ao invés de planetas,
haveria milhares de estrelas girando em torno de um centro. Todas essas
estrelas estariam próximas a um certo plano, assim como os planetas
se movem em torno do Sol praticamente em um único plano. O Sol,
sendo uma estrela, estaria também dentro desse sistema girante de
estrelas e, por estar próximo também a esse plano, vemos
a partir daqui essa faixa de estrelas cercando-nos como se fosse em um
anel. Assim como no sistema solar os planetas não se movem exatamente
em um plano, os sistema de estrelas também não é totalmente
achatado, mas tem estrelas que se afastam um pouco desse plano principal.
Essas são as estrelas que observamos fora da Via Láctea.
Kant supôs, em meados do século XVIII, qua Via Láctea
seria um gigantesco disco de estrelas. As galáxias NGC224 (esquerda)
e NGC4594 (direita), fotografadas dois séculos mais tarde. mostram
a estrutura imaginada por Kant.
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Se fosse
possível ver esse conjunto de estrelas de fora dele – e não
de dentro, do ponto onde estamos – ele pareceria um disco, de pequena espessura,
luminoso e girando.
Kant dá
um motivo muito importante para se acreditar nesse grande sistema em rotação:
se as estrelas estivessem inicialmente paradas umas em relação
às outras, elas não poderiam ficar paradas para sempre, pois
existe a atração gravitacional entre elas. Embora elas estejam
muito distantes umas das outras, essa força deve existir e acabaria
por atrair e aproximar todas as estrelas entre si; elas se chocariam e
haveria uma destruição total. |
Como vimos,
Newton havia pensado nesse problema, mas havia dito simplesmente que Deus
havia colocado as estrelas muito distantes umas das outras para que isso
não acontecesse. A idéia de Newton não é muito
boa: por maior que seja essa distância, a atração deve
existir e, em um tempo infinito, acabaria por aproximar todas as estrelas
e fazer com que elas se chocassem umas com as outras. Mas, admitindo-se
que elas giram em torno de um centro comum, essa rotação
as mantêm afastadas, ao invés de se unirem e se destruírem.
A proposta
de Kant é muito interessante, e totalmente em harmonia com a física
newtoniana. Mas ele vai mais longe: ele vai indicar outras evidências
de que existe esse sistema de estrelas, estudando as nebulosas. |
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