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CAPÍTULO 4 - A REINTERPRETAÇÃO
FILOSÓFICA DOS MITOS
4.1 UMA INTERPRETAÇÃO
DO GENESIS
Como já foi dito, o processo de crítica da tradição
mitológica e religiosa, na Grécia, originou dois tipos de
resultados. Por um lado, houve o desenvolvimento de uma filosofia “pura”,
que procurou se desvincular da tradição. Por outro lado,
alguns pensadores procuraram reinterpretar os mitos, encontrando neles
significados simbólicos ocultos.
Vejamos alguns exemplos de reinterpretação da mitologia.
O filósofo judeu Philon, de Alexandria (século I da era cristã),
educado na tradição grega, escreveu uma obra em que comentava
e interpretava o Gênesis sob o ponto de vista simbólico. Ele
considerou que Moisés – o provável autor do Gênesis
– havia atingido uma grande sabedoria, e que representou de forma simbólica
esse conhecimento, que era complexo demais para ser ensinado de outra forma.
Os “seis dias” da criação, por exemplo, não indicariam
realmente uma seqüência de dias, pois Deus fez tudo simultaneamente.
Segundo Philon, o número 6 seria apenas um símbolo de perfeição,
pois esse número pode ser representado tanto como 1x2x3 como por
1+2+3. O número 2 é o primeiro número par, e os números
pares são femininos; o número três é ímpar
e masculino; assim, o número 6, formado a partir do 2 e do 3, contém
tanto o masculino quanto o feminino. Simbolicamente, ele é um número
completo ou perfeito. Esse seria o motivo pelo qual Moisés teria,
segundo Philon, descrito que a criação teve 6 fases. |
Versão francesa do livro no qual Philon de Alexandria reinterpreta
o Genesis.
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Philon interpreta
o primeiro dia do Gênesis supondo que Deus, inicialmente, construiu
apenas mentalmente o universo – ou seja, elaborou seu plano ou projeto
– e só depois o produziu ou materializou. Esse projeto teria 7 elementos
básicos. Os dois primeiros seriam o céu e a terra – mas um
céu incorpóreo e uma terra invisível, existentes apenas
na mente de Deus: “No princípio, Deus criou o céu e a terra.
E a terra era informe e vazia...” |
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