Capítulo 4: A Reinterpretação Filosófica dos Mitos

O  UNIVERSO

TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM E EVOLUÇÃO

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        Há muitos outros pontos interessantes. Timeo apresenta uma discussão a respeito do próprio tempo. Deus não pode mudar, pois ele é perfeito. Se ele mudasse, ele poderia ficar melhor ou pior. Se ele pudesse melhorar, ele não seria ainda perfeito. Se ele piorasse, deixaria de ser um deus. Por isso, ele está fora do tempo: ele não tem passado, presente ou futuro, por ser sempre o mesmo. Esta é a idéia representada pela palavra “eterno”.

        O mundo, pelo contrário, está sempre mudando. Ele tem passado, presente e futuro, diferentes um do outro. Mas não se pode pensar em um tempo antes que o universo existisse. Pois só existe tempo quando há um antes e um depois; e isso só passa a existir quando há movimento. Por isso, o tempo surgiu ao mesmo tempo que o universo.

        Timeo discute a natureza daquilo que existia antes do universo. É claro que, neste ponto, ele está entrando em contradição com aquilo que ele próprio estabeleceu sobre o tempo. Se o tempo surge ao mesmo tempo que o universo, não tem sentido falar sobre o que havia antes do universo. No entanto, essa incoerência não parece preocupá-lo.

        Timeo admite que há coisas eternas – Deus e as idéias – que não sofrem transformação; e há coisas que se transformam sempre e que são materiais, perceptíveis. A matéria pode adquirir diferentes formas e aquilo que é material, perceptível aos sentidos, está sempre se transformando. O próprio fogo, água e outros “elementos”, estão sempre mudando e não são permanentes. Mas deve existir alguma coisa a partir da qual esses elementos se formam, e que continua a existir sempre. Essa coisa seria imperceptível, invisível, sem forma, mas poderia adquirir qualquer forma – como a argila mole, que pode ser moldada e adquirir uma forma qualquer. Essa base de toda a matéria é, segundo Timeo, o espaço.

Meu veredicto é que antes dos céus existiam aquilo que é, aquilo que se transforma e o espaço, que existiam de três formas diferentes. E aquela que nutre as gerações [o espaço], umedecida pela água e inflamada pelo fogo, e recebendo as formas da terra e do ar, sofria todo tipo de propriedades que os acompanham, e apresentava uma estranha variedade de aparências. Estando cheia de poderes que não eram semelhantes nem estavam balanceados, ele nunca estava em um estado de equilíbrio em lugar nenhum, mas sempre cedendo irregularmente aqui e ali, era sacudida por eles, e por seu movimento os movia; e os elementos, quando movidos, se separavam e moviam  continuamente, alguns de um modo, outros de outro.
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