Capítulo 4: A Reinterpretação Filosófica dos Mitos

O  UNIVERSO

TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM E EVOLUÇÃO

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        O universo contém em si tudo de que precisa, por isso ele não precisa de boca, nem de mãos; não tem olhos nem orelhas, pois não há nada fora dele para ser visto ou escutado; não precisa de pés e pernas, pois não há nada fora dele que ele precise procurar. O universo é totalmente auto-suficiente, pois depender de alguma outra coisa é um tipo de imperfeição. O criador ou artesão do universo lhe deu um movimento circular, em torno do próprio centro, por ser este também o movimento mais perfeito.
Este foi o plano completo do Deus eterno para o deus que iria ser criado, ao qual ele deu, por essa razão, um corpo liso e igual, tendo uma superfície em todos os pontos eqüidistante do centro, um corpo completo e perfeito, e formado de corpos perfeitos. E no centro ele colocou a alma, que ele difundiu pelo corpo, fazendo com que fosse também o seu meio externo; e ele fez o universo como um círculo se movendo em um círculo, único e solitário, e no entanto, por sua excelência, capaz de conversar consigo próprio e não necessitando de outro amigo ou conhecido. Tendo esse propósito em vista, ele criou o mundo como um deus abençoado.
        A idéia de que a forma esférica e o movimento circular são os mais perfeitos e os únicos adequados para a constituição do céu tiveram enorme influência, durante muitos séculos. Mas de onde saíram essas idéias? A partir dos estudos astronômicos da época.

        A visão do universo, no tempo de Platão, já é muito mais sofisticada do que na época de Homero e Hesíodo. Já não se pensava mais na Terra como uma superfície achatada coberta pelo hemisfério do céu. Sabia-se agora que a Terra era redonda. Acreditava-se que ela estava parada no centro de tudo, cercada pelos planetas e pelas estrelas. Tanto os planetas quanto as estrelas eram imaginados como coisas muito menores do que a Terra. O céu, ao invés de um hemisfério, passa a ser descrito como sendo uma superfície esférica. Não se pensa em um universo infinito.

        Todas as concepções da época são incorporadas à descrição de Timeo. Ele fala sobre os planetas conhecidos, sobre seus movimentos em torno da Terra, sobre quais eram os mais próximos ou mais distantes, segundo a opinião dos astrônomos.
 

    4.3.3 A matéria, o caos, o tempo
 

Os elementos, segundo o Timeo, de Platão, têm partículas com formas geométricas simples. As partículas de fogo seriam tetraedros, as do ar, octaedros, as da água, icosaedros e as da terra, cubos.
        Timeo vai descrevendo progressivamente cada uma das características do universo. Seguindo a tradição de Pitágoras, ele assume que tudo foi planejado de acordo com leis matemáticas e, por isso, desenvolve complicados argumentos para tentar provar que devem existir quatro e apenas quatro substâncias naturais (terra, fogo, água e ar) e associa esses elementos a quatro figuras geométricas tridimensionais: a terra teria partículas em forma de cubo, o fogo seria formado por pequenas pirâmides de base triangular (tetraedros), o ar por octaedros e a água por icosaedros  . Essas partículas dos quatro “elementos” não seriam indivisíveis e sim formadas por triângulos (ou quadrados, no caso do cubo). Por isso, segundo Timeo, a água, o ar e o fogo poderiam se transformar um no outro; mas nenhum deles poderia se transformar em terra.

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