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A constituição do homem contém todos os quatro elementos;
e seu espírito contém, em uma Memória eterna, todo
o mundo das idéias, todas as formas eternas que se manifestam no
universo. Mas apenas o Sábio tem acesso a essa Memória.
Essa, como vimos, é uma noção de origem platônica.
Conhecer é lembrar-se, é recorrer à memória
– mas não da memória do que vimos nessa vida, mas de todas
as vidas e principalmente do que vimos entre as vidas, quando pudemos contemplar
diretamente o mundo imaterial e eterno, das idéias.
Ilustração do livro de Bovelles: a sabedoria contempla
a si própria num espelho que é o universo.
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A obra de Bovelles é totalmente simbólica e rica em imagens
e desenhos que ilustram suas idéias. Uma dessas figuras representa
a Sabedoria, sob a forma de uma mulher, sentada sobre um cubo (figura que
representa estabilidade), contemplando um espelho à sua frente.
O espelho é redondo e mostra no seu centro o reflexo do rosto da
Sabedoria. Em volta desse rosto, vê-se um círculo com os desenhos
do Sol, a Lua e as estrelas. O significado dessa figura é claro
e é descrito no livro de Bovelles: o espelho representa a Memória,
o mundo das idéias, onde o Sábio vê o seu interior
mas vê, ao mesmo tempo, tudo aquilo que dirige o universo. Ele e
o mundo celeste formam uma unidade: “O Homem inteiro é igual ao
Universo inteiro e se compõe das mesmas partes”. A alma humana seria
o microcosmo intelectual, igual à região celeste; e o corpo
humano seria o microcosmo material, igual ao mundo sensível que
nos cerca, abaixo da esfera da Lua. Por isso, “o espírito do Homem
é capaz de perceber a região do éter [o céu]
e tudo o que aí se encontra”.
O objetivo principal de Bovelles nessa obra é descrever o Sábio
e não descrever o Universo. Não se encontra nesse livro nenhuma
descrição detalhada sobre a constituição e
a origem do mundo. Podemos no entanto |
ver como esse tipo de idéias
leva a uma discussão cosmogônica em outro autor importante
dessa mesma época: Paracelso, cujo nome verdadeiro era Philippus
Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541). |
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