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Nenhuma outra tradição da Antigüidade conseguiu imaginar
durações de tempo tão longas quanto as do Código
de Manu. A tradição judaica, por exemplo, admitiu que o universo
havia sido criado por Deus há apenas alguns milhares de anos. Somente
no século XX a ciência ocidental começou a avaliar
a duração do universo em bilhões de anos.
O Código de Manu prossegue descrevendo de forma bastante abstrata
e filosófica a produção dos cinco elementos básicos
do universo: éter, fogo, ar, água e terra. Eles são
precedidos, no entanto, pelo pensamento. A descrição desses
cinco elementos básicos e o modo como eles surgem um a partir do
outro constituem um aspecto bastante avançado do pensamento indiano
antigo.
Ao fim desse dia
e dessa noite, quem dormia (Brahman)desperta; despertando, ele cria o pensamento
(manas), que existe e não existe.
Movida pelo desejo de criar,
a mente se modifica gerando o éter; ele é dotado da qualidade
da vibração.
Do éter, modificado por
sua vez, nasce o vento puro e poderoso, que carrega todos os aromas; ele
é dotado de tangibilidade.
Do vento, transformado, procede
a luz brilhante, que ilumina e dissipa as trevas; ela tem a qualidade da
cor.
Da luz, modificada, nasce a
água, que tem a qualidade do sabor; da água nasce a terra,
que tem por qualidade o odor. Eis o princípio da criação.
A idade dos devas, antes
descrita, com seus doze mil anos, multiplicada por setenta e um, forma
o período de um Manu.
Inumeráveis são
os períodos dos Manus, e a criação e a dissolução
do mundo. O Ser supremo os repete sempre, por brincadeira.
O universo, como um todo, repete-se portanto indefinidamente. Mas, em cada
uma de suas fases de existência, em cada dia de Brahman, ocorrem
muitos ciclos menores. Em cada um desses ciclos, a humanidade é
criada e passa por uma decadência em quatro fases, que se assemelham
às quatro idades da mitologia grega:
Na Krita-yuga, a justiça
e a verdade são completas, com seus quatro pés; e nenhum
proveito é obtido pelos homens injustamente.
Nas outras (idades), pelos proveitos
ilícitos, a justiça perde sucessivamente seus pés;
e pelo roubo, pela mentira e pela falsidade, o mérito diminui a
cada vez em um quarto.
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