Capítulo 10: A Teoria da Relatividade e a Cosmologia Moderna

O  UNIVERSO

TEORIAS SOBRE SUA ORIGEM E EVOLUÇÃO

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        O modelo de Lemaître foi também desenvolvido e apoiado por Arthur Eddington. Dentro das várias opções disponíveis de modelos relativísticos, esse tipo de universo era apenas um dos possíveis. Por que escolher este e não algum outro universo em expansão? A escolha não se baseava nem em cálculos, nem em observações. A grande vantagem desse modelo sobre os outros (pelo menos de acordo com Eddington) seria um aspecto filosófico: ele elimina o problema do “início do universo”, já que pode assumir um passado infinito. Em uma conferência, em 1931, Eddington comenta:
Filosoficamente, a noção de um início da ordem atual da natureza me parece repugnante.
        Em um livro publicado posteriormente, pode-se notar de modo ainda mais claro que Eddington tem um motivo não-científico para essa escolha:
As opiniões relativas ao princípio das coisas caem quase fora do terreno do argumento científico. Não podemos dar razões científicas para explicar por que o mundo foi criado de um modo de preferência a um outro. Mas suponho que todos temos um sentimento estético na questão.
Já que não posso evitar tocar nesta questão do começo, pareceu-me que a teoria mais satisfatória seria aquela que fizesse que esse começo não fosse demasiado repentino do ponto de vista estético. Esta condição só pode ser satisfeita por um universo de Einstein com todas as forças principais em equilíbrio. Segundo isto, o estado primordial de coisas que imagino é uma distribuição uniforme de prótons e elétrons, extremamente diluída e enchendo todo o espaço (esférico), que permaneça quase em equilíbrio por um tempo muito grande, até que prevaleça sua inerente instabilidade.
        É curioso que Lemaître não gostou da justificativa que Eddington deu para o estado inicial do universo. Lemaître era um religioso, e deve ter percebido, através do trabalho de Eddington, que esse modelo tornava desnecessária a existência de Deus. Como resultado imediato do artigo de Eddington, Lemaître mudou suas idéias. Apenas 6 semanas após a publicação do trabalho de Eddington, ele publicou, na mesma revista, o primeiro esboço de uma nova teoria.

        Nessa teoria, ele rejeita totalmente o modelo de Einstein como sendo o estado inicial do universo, e propõe, pelo contrário, que o universo teve um início brusco. Ele propõe, nessa nova teoria, que à medida que recuarmos para o passado encontraremos o universo em um estado mais concentrado, tanto sob o ponto de vista de energia como de matéria. Ele supõe que o universo pode ter surgido, inicialmente, sob a forma de poucas ou mesmo de uma única partícula, completamente diferente das conhecidas, e que foi depois se dividindo, fragmentando e criando um universo em expansão. Ele sugere que essa partícula inicial poderia ser um super-átomo, com peso atômico igual à soma dos pesos atômicos de todas as partículas do universo. Como esse início do universo é brusco, e diferente de qualquer coisa que conhecemos, abre-se nessa teoria a possibilidade de introduzir a necessidade de Deus, para criar o átomo primitivo do qual surgiu tudo.

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