Capítulo 6: Do Período das Grandes Descobertas ao Século XVIII

   Das coisas que se carrega por fora para preservar da peste, a melhor é carregar mercúrio sobre o coração.
   Na grande peste de Lisboa no ano de 1568, em que morreram cerca de 50.000 pessoas, ouvi em Salamanca que o melhor remédio que os habitantes tinham para se preservar foi carregar um saquinho de arsênico sobre o coração. E acredito que ele é levado porque um veneno atrai outro; e deve-se ter dois, para trocá-los. 
   Os que tiverem medo desse remédio farão um saquinho apenas de xermes, ou farão dois saquinhos de tafetá chios de rosas vermelhas, sândalo, aloés, canela, girofeiro, zedoária, casca de limão, coriandro preparado, flores de violeta e um pouco de açafrão, e devem ser aplicados sobre o coração perfumados no vapor do vinagre rosado derramado sobre pedras quentes.
   Muitos bebem pela manhã um pouco de sua própria urina e a consideram um remédio soberano. Eu a considero salgada e corrosiva; é melhor (como escreve Gaynerius, autor digno de fé e grande prático) cheirar com freqüência a urina de um bode e o próprio bode, que se deve manter em casa.

         Há muitas outras recomendações para manter a saúde. Deve-se evitar exercícios violentos, banhos, saunas, relações sexuais. Não dormir demais, nunca dormir de dia, mas também não ficar acordado demais. Sair de casa depois que o Sol tiver se erguido, e voltar para casa antes do por do Sol.

            Quanto aos alimentos, ele indica vários cuidados com as carnes: recomenda carneiro, vitela, coelhos, pombos, pássaros do campo. Proíbe carne de vaca, porco, cervo, cabra; gordura, sangue, fígado, pulmão, miolos, tripas, pele, etc. Declara que todos os legumes são maus e que se deve evitar cebolas, couves, etc. Dos frutos, os doces são maus. Recomenda os ácidos, como romãs, limões, laranjas, peras, uvas, etc. Figos, peras e cerejas são considerados como destituídos de valor.

         Recomenda a adição de temperos aromáticos, como canela, cravo da Índia, noz moscada, açafrão, pimenta, gengibre, coral, raspas de marfim "ou de licorne", no tempo frio.