Capítulo 6: Do Período das Grandes Descobertas ao Século XVIII

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Em seguida, Álvares discorre sobre várias hipóteses a respeito do surgimento das epidemias:
Algumas vezes as mesmas doenças provêm da infecção do ar gerada pelas imundícies, inundações, chuvas, umidade, tremores de terra, vapores ou abundância de corpos mortos. Essa é perniciosa não apenas aos homens mas também aos animais, como ocorreu em Roma nos tempos de Tarquinius Superbus, quando o ar se infectou pela má nutrição das pessoas. 
         Como vimos, a idéia de que o ar transmite as epidemias era já bastante antiga. Não poderia faltar também, é claro, a menção a fatores astrológicos:
Esses contágios são geralmente precedidos por algumas conjunções de astros ou eclipses com aspectos funestos, como foi a conjunção de Saturno e Marte, no signo de Aquário, casa própria do dito Saturno, (...) que os médicos que não ignoram Astrologia notaram ter muitas vezes sido causa de doenças populares, e também um antes da coqueluche do ano 1580. Pois, embora muitos autores antigos digam que os astros são por si todos bons e não enviam nada de mau aos corpos inferiores, no entanto nosso Senhor, servindo-se de causas secundárias como instrumentos da justiça, permite que por suas influências que por si são boas e salutares, os quatro elementos se alterem tanto, que o ar, do qual nos servimos mais, absorvendo-o continuamente pela respiração, adquira alguma intemperança ou má qualidade contrária à nossa vida.
         Álvares admite também a existência do contágio - no entanto, utiliza uma concepção exagerada e fantasiosa do fenômeno:
Essas mesmas doenças também provêm muitas vezes sem qualquer corrupção do ar, pelo simples contato e toque das coisas infectadas. Isso é muito comum e citarei um só exemplo disso. Na cidade de Selêucia, na Babilônia, no tempo do imperador Antonino, alguns soldados da companhia de Avidius Cassius, movidos pela avareza de roubar, abriram certo cofre de prata, do qual saiu um vapor ou ar infecto e aí guardado há muito tempo, que infectou todo o império, do oriente até o ocidente. Na mesma ocasião ocorreu a grande peste de Roma no tempo do imperador Commodus, em que todos os dias morriam mais de 1.000 pessoas, e isso por meio de certos homens abomináveis, que jogavam pela cidade certas coisas impregnadas de veneno, por cujo toque uma infinidade de pessoas foi surpreendida pela peste.
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