|
encantamentos, pelos
seus malefícios e pelas suas conjurações, e por outros
encantos e feitiços amaldiçoados e por outras também
amaldiçoadas monstruosidades e ofensas hórridas, têm
assassinado crianças ainda no útero da mãe, além
de novilhos, e têm arruinado os produtos da terra, as uvas das vinhas,
os frutos das árvores, e mais ainda: têm destruído
homens, mulheres, bestas de carga, rebanhos, animais de outras espécies,
parreirais, pomares, prados, pastos, trigo e muitos outros cereais (...)
Como se vê, o próprio Papa acreditava que as bruxas e feiticeiros,
com auxílio do demônio, destruiam plantações
e arrasavam animais e pessoas. Kramer e Sprenger discutem, com ampla erudição,
se de fato existe esse poder e se as doenças e epidemias não
teriam apenas outras causas naturais, como por exemplo a influência
dos astros:
Há quem defenda
que toda tansformação que se dá no corpo humano -
para a saúde ou para a doença, por exemplo - pode ser reduzida
à questão das causas naturais, conforme Aristóteles
demonstrou no sétimo livro da sua Física. E dessas causas
a maior é a influência dos astros em cujo movimento os demônios
não têm o poder de interferir: isso só Deus pode fazer.
No entanto, contra essa opinião, os inquisidores apresentam a autoridade
religiosa:
Santo Agostinho nos
serve de testemunha ao dizer: "Existem, com efeito, feitiços, malefícios
e encantamentos diabólicos, que não só fazem adoecer
os homens como também os matam".
|
Desenho feito por Dürer: sifilítico sob o zodíaco.
|
Os inquisidores não colocam em dúvida a influência
dos astros sobre as enfermidades. Eles aceitam, por exemplo, que os cometas
são criados por Deus para prenunciar a morte dos reis: |
|