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CONCEPÇÕES
DOS ROMANOS SOBRE EPIDEMIAS E CONTÁGIO
No império romano, ocorriam muitas epidemias que chamaram a atenção
dos médicos. Em geral, seguindo a tradição hipocrática,
eles consideravam que a epidemia se devia a uma mudança climática
que produzia um desequilíbrio dos humores. Um autor do primeiro
século antes da era cristã, Celsus, faz uma descrição
dos cuidados que deveriam ser tomados durante as epidemias:
Há precauções
indispensáveis, que se deve tomar, durante o reinado de uma epidemia,
por aquele que ainda não foi atingido mas que não está
a salvo de seus ataques. O mais seguro é então viajar ou
navegar. Se isso não é possível, deve fazer-se transportar
em liteira, levar-se docemente em pleno ar, antes da hora dos grandes calores;
utilizar unções leves e, como se aconselhou mais acima, evitar
a fatiga, as indigestões, o frio, o calor e os excessos venéreos.
Deve-se tomar muito mais cuidado ainda se ocorrer algum mal estar, e nesse
caso não se levantar pela manhã, nunca caminhar de pés
nus, sobretudo quando acaba de comer ou tomar um banho, renunciar a produzir
vômitos tanto em jejum quanto após o jantar, não produzir
evacuações alvinas, tentar mesmo interrompê-las se
aparecerem, e remediar preferivelmente pela abstinência a plenitude
excessiva do corpo. Igualmente, deve-se suprirmir os banhos, não
ficar suado, manter-se em guarda contra o sol do meio-dia, sobretudo se
ele vier depois da única refeição que se deve fazer
no dia. Essa refeição será por fim muito moderada,
para não se expor às indigestões; e em dias alternados
deve-se beber água e vinho. Tomando-se essas precauções,
não se mudará mais nada em sua maneira de viver. Todas as
doenças pestilenciais, e principalmente aquelas que são trazidas
pelos ventos do meio dia, exigem que se conforme a esses preceitos.
Celsus recomenda, na prevenção contra as epidemias, os procedimentos
gerais que já apareciam em Hipócrates e outros autores para
manter a saúde: cuidar especialmente da alimentação
e da bebida, utilizar moderação nas atividades, etc. Quando
a pessoa fosse atingida pela epidemia, os procedimentos de cura consistiam
em reestabelecer o equilíbrio dos humores:
Nas febres, o caráter
pestilencial exige também uma atenção especial. A
dieta, os purgativos ou lavagens [intestinais] não são nesse
caso de utilidade nenhuma, e quando as forças o permitem, o melhor
é tirar sangue, sobretudo se a febre é acompanhada pela dor.
Se esse meio não oferecer segurança, deve-se, logo que a
febre estiver menos forte, desembaraçar o estômago fazendo
vomitar.
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