Capítulo 3: Medicina Grega

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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A maior parte dos doentes era tomada por ânsia de vômito, que provocava fortes espasmos. Em alguns isso logo cessava, em outros demorava. O corpo, na superfície, não dava a impressão de um calor excessivo, nem ficava pálido, mas um pouco avermelhado, lívido, e rompiam pequenas úlceras e pústulas. Os órgãos internos, no entanto, queimavam tanto que os enfermos não suportavam o contato das roupas e tecidos, mesmo os mais finos; desnudavam-se completamente e queriam jogar-se na água fria. E muitos de fato o faziam, jogando-se nos poços, oprimidos por uma sede insaciável; mas não fazia diferença se bebiam muito ou pouco. 
A impossibilidade de repousar e de dormir os atormentava continuamente. O corpo inicialmente não se desgastava, mas resistia ao trabalho da doença. Os que morriam após sete ou oito dias ainda conservavam uma certa força. Mas os que passavam desse estágio, quando a doença descia ao ventre, tinham grandes ulcerações acompanhadas por fortes diarréias e por causa desta muitos morriam de fraqueza.
         A terrível doença, quando não matava, produzia graves danos e mutilações nas mãos, pés e órgãos genitais. Alguns sobreviventes ficavam cegos. Outros, perdiam toda a lembrança de seu passado, não conhecendo mais seus familiares. Os cadáveres ficavam jogados pelo chão. Os pássaros e os animais que normalmente se alimentariam desses corpos, ficavam longe deles, ou, se os comiam, morriam logo depois.

         Temendo o contágio, os próprios parentes abandonavam as pessoas doentes. Segundo Tucídides, as pessoas que ficavam doentes e sobreviviam não eram mais atacadas pela peste e podiam atender sem perigo aos doentes.

         Tantas pessoas morriam que já não se conseguia mais enterrá-las ou queimar adequadamente seus corpos. A morte atingia a todos e a proximidade do fim fazia com que as pessoas se tornassem imediatistas, durante a praga. Ninguém mais se importava com as leis, com a honra ou a religião. Todos queriam apenas aproveitar da maneira mais agradável possível os seus últimos momentos.

         Há estimativas de que tenha morrido a metade ou mais da metade dos habitantes de Atenas.

         A peste desapareceu como havia surgido: sem que se soubesse sua causa ou como curá-la. Parecia algo sobrenatural. Pouco depois da peste, os atenienses colocaram no altar uma estátua de bronze de Atenea Hygieia, a quem foi atribuída a salvação da cidade.

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