Capítulo 3: Medicina Grega

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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    A PESTE DE ATENAS: O CONTÁGIO NA TRADIÇÃO GREGA
 

"A peste de Atenas", quadro do pintor belga Michiel Sweerts (1624 - 1664).
         Vimos que, na teoria hipocrática, as epidemias eram causadas por algum tipo de influência (em geral, climática) que atingia ao mesmo tempo toda a população. Não ha-via menção ao contágio. Em contraste com a visão "científica" de Hipócrates, a popula-ção em geral admitia a transmissão de doenças de uma pessoa para outra. Pode-se ob-servar isso na famosa e impressionante descrição que o historiador Tucídides fez da peste que assolou Atenas.

         A peste descrita por Tucídides ocorreu no ano 430 antes da era cristã, logo após a invasão da cidade pelos espartanos, durante a guerra do Peloponeso. Havia notícia de que a doença já havia ocorrido antes em outros locais, mas em Atenas a epidemia foi muito mais grave, matando milhares de atenienses. A doença se estabeleceu repentina-mente e atingiu rapidamente muitas pessoas.

         Tucídides conta que os médicos ignoravam como tratar essa doença e que ne-nhuma tentativa de tratar os doentes tinha sucesso. As pessoas recorreram às preces e consultas aos oráculos, mas isso de nada serviu. Inicialmente, os atenienses pensaram que os invasores haviam envenenado os poços de água, pois a região onde a doença surgiu não tinha fontes, e utilizava poços. Mas logo a doença se espalhou pelas outras partes de Atenas, e ficou claro que não se tratava de envenenamento, mas de uma terrí-vel peste.

         O próprio Tucídides foi acometido pela peste, mas sobreviveu. Ele não se preo-cupa em especular sobre a causa da doença, mas descreve com grande cuidado os seus sintomas:

Se alguém já estava doente antes, sua enfermidade se transformava na peste. Os outros, sem nenhum sinal de aviso, em plena saúde, eram tomados inicialmente por um forte calor na cabeça, vermelhidão e inflamação dos olhos. As partes in-ternas, como a garganta e a língua, ficavam sanguinolentas e emitiam um hálito fétido e repugnante. Esses sintomas eram seguidos por espirros e rouquidão, e logo depois a doença descia ao peito, manifestando-se por uma tosse violenta. Depois, fixava-se na boca do estômago, revolvendo-o; e seguiam-se descargas de bílis de todos os tipos catalogados pelos médicos, acompanhados por sofrimento atroz.
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