Capítulo 3: Medicina Grega |
HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS |
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Na descrição de Tucídides, percebe-se claramente que
ele acreditava que a peste era transmissível. Note-se que a idéia
de que a doença passava de uma pessoa para outra não é
apenas uma hipótese do próprio Tucídides. Ele descreve
que as pessoas abandonavam os doentes por medo de adquirirem a peste. É
evidente, por essa descrição, que o conceito de contágio
da peste era extremamente difundido entre as pessoas.
Provavelmente, Hipócrates presenciou essa peste. Há narrativas de que ele próprio teria acabado com ela, acendendo grandes fogueiras por toda a cidade de Atenas (ou seja, mudando o seu clima, de modo artificial). Porém, se vivenciou essa assustadora experiência, ela não lhe passou a idéia de contágio. Por que motivo Hipócrates não aceitou a concepção popular de contágio nas epidemias? Não podemos sabê-lo com certeza, pois ele nem chega a discutir essa idéia. Mas pode-se tentar compreender sua posição com base na atitude geral que é mostrada nos textos hipocráticos. De um modo geral, nesses livros não se tenta adivinhar aquilo que não pode ser observado. Aquilo que se pode conhecer de uma doença é o que é mostrado pelos sintomas, e pouco mais além disso. Ao invés de especular sobre o que não se vê, os textos hipocráticos se concentram nos aspectos que podem ser mais úteis para a prática médica: descrição dos sintomas, desenvolvimento da doença, prognóstico, tratamento. Essa atitude empírica pode ter sido um dos motivos para evitar qualquer discussão sobre uma coisa invisível que pudesse estar passando de um doente para uma pessoa sadia, transmitindo a doença. Pode ser também que essa noção de contágio parecesse a Hipócrates uma mera superstição, como as noções de magia e religião com as quais ela sempre esteve associada na Antigüidade. Como a medicina hipocrática é decididamente naturalista e despreza qualquer explicação sobrenatural, talvez a idéia de contágio tenha sido recusada e atirada ao lixo juntamente com as outras idéias supersticiosas com as quais estava associada. Pode ter havido ainda um terceiro motivo. A concepção geral de saúde e doença de Hipócrates é incompatível com a idéia de contágio. Se a saúde é um equilíbrio dos humores, como esse equilíbrio poderia ser rompido pelo contato físico com outra pessoa? Como um desequilíbrio dos humores em um doente pode passar para outro? É difícil imaginar uma coisa desse tipo. Pode ter sido, portanto, por motivos teóricos, que o contágio foi excluído do pensamento médico de Hipócrates. |
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CRONO LOGIA |