Capítulo 12: O Século XX: Sucessos e Dificuldades

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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    DIFICULDADES DE APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS

         Quanto aos processos de prevenção das doenças transmissíveis por medidas sanitárias e controle de vetores, pode-se dizer que nunca houve uma oposição significativa a essas medidas. Algumas vezes, os interesses comerciais foram superiores ao interesse da saúde pública, e não foram aplicadas medidas de controle de pessoas e mercadorias nos portos, alegando-se que essas medidas eram desnecessárias e inúteis. Mas, de um modo geral, aceitou-se a importância das medidas de isolamento de doentes, controle de dejetos, extermínio de vetores, etc. Atualmente, quando tais medidas não são adotadas de forma adequada por algum governo (como o brasileiro), isso não ocorre por ignorância científica ou por dúvidas sobre a eficácia dos métodos de prevenção: a omissão é geralmente causada por falta de interesse político na prevenção das doenças.

         Sob o ponto de vista da população em geral, no Brasil, pode-se dizer que existe pouca conscientização do perigo representado por doenças como a febre amarela ou o cólera. Toda propaganda governamental divulgando os cuidados necessários contra essas doenças, na década de 1980, evitavam toda descrição dos sintomas da doença. A campanha contra a disseminação do cólera (que se mostrou ineficaz) divulgava que essa doença se transmitia pela água e pelos alimentos (mas não falava sobre fezes e vômitos dos doentes, porque isso seria muito desagradável). Dizia que o cólera podia matar - mas não dizia que 1/4 dos doentes podem morrer, se não são tratados imediatamente. Dizia que as pessoas que tivessem início de diarréia líquida deviam procurar os postos de saúde - mas não informavam sobre outros sintomas da doença, nem explicavam como a pessoa definha e morre, desidratada, em poucas horas, por causa dessa doença. Como resultado, a visão popular da doença é de que o cólera é um tipo qualquer de diarréia sem importância, com o qual não precisamos nos preocupar muito. Talvez por isso o cólera ainda esteja presente no Brasil, na década de 1990.

         Mesmo quando se conhece muito bem o processo de transmissão de uma doença, como a aids, pode ser impossível deter o seu avanço por motivos sociais e culturais. No início do século, quando uma pessoa tinha febre amarela, as autoridades eram notificadas e ela era literalmente presa em um quarto, totalmente fechado com tela, para não poder passar a doença a outras pessoas. Ninguém discutia se isso violava ou não os direitos da pessoa. Atualmente, ninguém pode propor que os doentes de aids sejam isolados ou sequer identificados, pois isso não seria correto. Pode-se discutir se é correto que uma pessoa saiba que está com aids e oculte esse fato daqueles que estão à sua volta, em situações de risco (contato sexual, por exemplo).

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