Capítulo 11: Aperfeiçoamento e Dificuldades da Teoria Microbiana |
HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS |
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Pelo menos aparentemente, Lacerda estava seguindo o método de Koch.
Segundo sua descrição, ele verificou que os microorganismos
sempre eram encontrados nos doentes de beribéri; conseguiu cultivar
o microorganismo; reproduziu com o mesmo a doença em animais sãos;
e reencontrou nos animais inoculados o mesmo microorganismo. O que poderia
estar errado?
Há vários pontos duvidosos no trabalho de Lacerda. Teria ele de fato reconhecido algum microorganismo, ou observado vários diferentes, que por falta de treino considerou como sendo um só? Seria o microorganismo associado de fato ao beribéri, ou seria devido a uma infecção secundária e presente também em outros casos? Lacerda não fez comparação com pacientes de outras doenças, ou com pessoas sãs. Seria a cultura pura, ou uma mistura de microorganismos? Provavelmente era uma mistura. Pode-se de fato dizer que os animais de teste adquiriram beribéri? Provavelmente não. O que existe de mais instrutivo neste exemplo é que ele mostra que o método de Koch não é tão simples de aplicar quanto parece. Lacerda não se contentou com a descoberta do Bacillus beribericus. Ele procurou também indentificar a origem desse microorganismo. Vários autores já haviam suspeitado que o arroz estragado pudesse produzir o beribéri. Lacerda estudou um caso de uma pessoa que teve beribéri sem contato com qualquer outro doente e suspeitou da sua alimentação. Examinou o arroz e notou alguns grãos quebradiços, opacos, que se pulverizavam quando apertados; colocados no meio de outros, esses outros ficavam iguais, depois de muitos dias. Na superfície havia um parasita microscópico: filamentos que pareciam iguais aos observados nas culturas do sangue beribérico. Lacerda cultivou o parasita do arroz em caldo de carne de vaca esterilisado: surgiram elementos iguais aos que haviam surgido com o sangue beribérico. Lacerda tinha quase certeza de que os microorganismos do arroz eram a fonte da enfermidade. Com o fito de apreciar os resultados produzidos pela alimentação exclusiva desse arroz parasitado, demo-lo a comer a um rato sem adjunção de nenhum outro alimento. Ao cabo de seis dias o animal abortou quatro fetos já bastante desenvolvidos. Dois dias depois, os artelhos de uma das patas posteriores apresentaram-se vermelhos e intumescidos. Em um deles chegou a produzir-se uma exulceração, que tornou-se depois mais profunda. O animal no fim de dez dias dava mostras de grande abatimento. No duodécimo dia ele sucumbiu sob as nossas vistas por asfixia e convulsões. |
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CRONO LOGIA |