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Lacerda no laboratório de fisiologia do Museu Nacional (1902).
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Pela sua gravidade, o beribéri foi muito estudado, na época.
Como era de se esperar, a partir da década de 1880 as explicações
mais comuns são as que adotam a teoria microbiana das doenças.
Entre muitos outros casos, no Brasil, vários médicos adotaram
a nova e vitoriosa teoria, dedicaram-se ao beribéri e encontraram
seu micróbio. Em nosso país, o mais entusiasta defensor da
teoria parasitária do beribéri foi o diretor do Museu Nacional,
João Batista Lacerda, que publicou trabalhos sobre o assunto de
1883 até seus últimos dias (1915).
Embora atualmente possa nos parecer ridículo que alguém tenha
descoberto uma coisa que não existe, é instrutivo estudar
os trabalhos de Lacerda.
No seu primeiro trabalho, de 1883, Lacerda comenta inicialmente as descobertas
de Pasteur e de Koch. Ele próprio sabe que o estudo dos microorganismos
deve ser cuidadoso:
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Certo que é mister,
em benefício mesmo da ciência, reprimir as exageradas pretensões
de alguns espíritos sôfregos ou demasiado generlisadores,
que entendem que toda a doença é produto de parasitismo.
Onde, porém, se nota
o contágio, a transmissibilidade por vários modos, a epidemia,
a importação mórbida, deve-se suspeitar com todo fundamento
que entra em ação para produzir a doença um desses
seres infinitamente pequenos, que acham na sua natural reprodutibilidade,
favorecida e ativada por certas condições exogênicas,
ainda mal determinadas, o meio de propagar-se. Assim, tenho para mim como
coisa assaz provável que a febre amarela, a cólera morbus,
o tifo dos acampamentos e dos exércitos, a peste do Oriente, a varíola,
a escarlatina, a raiva, etc., são produzidas por agentes dessa ordem.
Lacerda conhecia e procurava seguir os melhores métodos experimentais.
Inicialmente, ele estudou o sangue de alguns doentes e acreditou ver neles
alguns microorganismos. Para verificar o que eram e se eram a causa da
enfermidade, resolveu seguir os preceitos de Koch, cultivando-os fora do
organismo doente. |
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