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O médico do navio, Galdino Cícero de Magalhães, fez
uma descrição detalhada de toda a viagem, sob o ponto de
vista médico. O navio partiu do Rio de Janeiro no dia 19 de novembro
de 1879. Dirigiu-se para Lisboa, depois percorreu o Mediterrâneo,
passando pelo Canal de Suez no início de abril de 1880. No início
de maio, chegaram ao Ceilão. O médico indica que havia muito
calor e chuvas, surgindo então muitas amidalites e inchações:
"(...) atribuímos a uma infecção miasmática
procedente dos porões, os quais durante a viagem sempre exalaram
um cheiro fétido, resultante das graxas apodrecidas nestas partes
mais baixas do navio."
Houve inicialmente dois casos com sintomas de beribéri, no Ceilão;
no final de maio, há mis dois casos da doença. O médico
descreve o grande calor e umidade do ar. Magalhães utilizou nos
doentes o quinino, arseniato de soda, tônicos, banhos quentes, fricções
com bálsamo, purgantes e outros remédios. Dois dos marinheiros
melhoraram, mas os outros não.
Firmado nosso diagnóstico
de beriberi empregamos os grânulos de arseniato de ferro, ácido
arsenioso, sulfato de estriquinina, ácido fosfórico, e quassina.
Decocto de cevada adicionada de digitalis e acônito, laxativos; linimento
volátil canforado ou terebentinado e bálsamo de Fioravanti
em fricções. Banhos salgados, aplicação de
choques elétricos pela máquina de correntes interrompidas
de Gaiffe, vinho de quina nas refeições.
Por incrível que pareça, o médico diz que "Pelo emprego
destes meios os sintomas foram cedendo sensivelmente de sua energia."
É provável que, durante essa parte do percurso, passando
por diferentes portos, a alimentação tenha sido variada e
satisfatória, produzindo a melhora da enfermidade. Tudo vai bem
até o Japão. No entanto, de julho ao fim de agosto, o navio
atravessa o Oceano Pacífico até a Califórnia - evidentemente,
sem reabastecimento de alimentos. Durante a travessia, aumentaram os problemas
com o beribéri: |
Mulher grávida com beribéri.
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"Foi aterrador o movimento da
enfermaria nos 20 dias de agosto". Os vegetais acabaram e só se
comia carne salgada de vaca e arroz, no navio. Apesar de citar esse fato,
Magalhães atribuiu a doença ao calor e à umidade que
continuaram durante o trajeto. |
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