Capítulo 10: O Desenvolvimento da Teoria Microbiana das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

.
         Partindo de sua hipótese, Lister procurou um modo de tratar das feridas com uma substância capaz de matar esses germes e impedir a putrefação. A substância não poderia ter uma ação cáustica muito violenta, pois iria ser aplicada em uma ferida aberta.

         Nas décadas anterior, haviam sido feitos vários estudos sobre substâncias antissépticas (ou seja, que impedem ou dificultam a putrefação). Fazia-se testes colocando carne ou outros materiais animais e vegetais em diferentes líquidos e comparando-os para verificar o surgimento da decomposição do material. Estudou-se o vinho, álcool, óleo de terebentina, sal amoníaco, salitre, bórax, alúmen, aloés, mirra e outras substâncias. Magendie e Duroy observaram o grande poder da tintura de iodo na conservação de carne, sangue e outros materiais. Angus Smith testou vários gases, observando o poder antisséptico do cloro, bromo, iodo, ácido clorídrigo, ácido sulfuroso e éter. Todas essas pesquisas observavam a putrefação, mas não estudavam seus aspectos microscópicos. Autores posteriores testaram o efeito de substâncias sobre os próprios microorganismos.

         Lister escolheu a substância antisséptica mais poderosa que conhecia e que não produzia muita irritação nos tecidos vivos: o ácido fênico ou carbólico, que havia sido estudado por Lemaire. Ele próprio já havia recomendado essa substância para evitar a gangrena. No entanto, novamente, Lister parece ter escolhido esse antisséptico sem conhecer os estudos daquele pesquisador, pois afirma:

Durante o decorrer do ano de 1864 fui impressionado pela leitura de um relatório sobre os efeitos notáveis do ácido fênico sobre as águas de esgoto da cidade de Carlisle.
A adição de uma quantidade muito pequena de ácido fênico a essas águas retirava todo odor fétido às águas de irrigação, e até destruia os entozoários que infestavam ordinariamente os animais que se alimentavam nessas pastagens.
         Pareceu-lhe que um antiséptico tão poderoso poderia ser conveniente para experimentos sobre o assunto. Resolveu assim aplicar ácido fênico em fraturas complicadas. A primeira tentativa, realizada na Enfermaria Real de Glasgow, em março de 1865, foi um insucesso: a ferida se infeccionou e o paciente morreu. As tentativas seguintes foram bem sucedidas.
.
Página anterior
220
Próxima página

INTRO DUÇÃO
CAP. 01
CAP. 02
CAP. 03
CAP. 04
CAP. 05
CAP. 06
CAP. 07
CAP. 08
CAP. 09
CAP. 10
CAP. 11
CAP. 12
CRONO LOGIA