Capítulo 10: O Desenvolvimento da Teoria Microbiana das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

.
         Lister se convenceu de que "a causa essencial da supuração nas feridas é a decomposição produzida pela influência da atmosfera no sangue ou serum retido nela, ou em porções de tecido destruídas pelo dano".

         Havia uma antiga crença de que o ar era prejudicial para a cura de feridas. Arnaldo de Villanova, Paracelso e outros médicos do período medieval e do renascimento afirmavam que era preciso proteger as feridas e cortes cirúrgicos do ar. No século XVI, Joseph du Chesne recomendava lavar as feridas com água, tratando-as também com vinagre e óleo. Justificava esse uso dizendo que o vinagre serve para proteger alimentos contra o mofo e a putrefação, tendo igual papel nas feridas; e que o óleo impedia que o ar entrasse na ferida, protegendo-a da corrupção. Na mesma época, Ambroise Paré indica a importância de costurar as grandes feridas, unindo suas bordas, para "proteger da alteração do ar, que prejudica as feridas". Em torno de 1600, havia um consenso dos médicos, que acreditavam que o ar produzia complicações e gangrena; mas ninguém sabia o motivo disso.

         Lister se pergunta como a atmosfera pode levar à decomposição das substâncias. Ele estava razoavelmente informado sobre as pesquisas recentes. Sabia que não é o oxigênio que produz esse efeito e sim certas partículas que flutuam no ar, que são os germes de seres inferiores visíveis ao microscópio. Lister associou os estudos de Pasteur às infecções, imaginando que os germes da atmosfera penetravam nas feridas e lá se multiplicavam e produziam a alteração do sangue, a putrefação, o cheiro e o pus.

         O hospital de Lister ficava ao lado de um campo onde, pouco antes, haviam sido enterrados cadáveres de coléricos. Lister supôs que as complicações graves das feridas dependiam dos germes provenientes do cemitério, que poderiam ser transportados pelo ar. Elas ocasionariam uma putrefação, cujos produtos envenenariam o organismo.

         Na verdade, as idéias de Lister estavam próximas das de Lemaire, de um miasma não específico associado a microorganismos produzidos pela putrefação. Mas Lister não cita os trabalhos de Lemaire.

         Poderíamos imaginar que o passo seguinte deveria ser o estudo microscópico do líquido que surgia nas feridas, para verificar se continha microorganismos. Esse seria o procedimento natural de um pesquisador que estivesse investigando a causa da infecção. Mas não foi isso que Lister fez. Ele não era um microscopista e sim um cirurgião. Seu interesse era prático e não teórico. Ele não procurou testar diretamente essa hipótese. Lister a aceitou e partiu da idéia dos germes do ar para desenvolver um método adequado para evitar as infecções.

.
Página anterior
219
Próxima página

INTRO DUÇÃO
CAP. 01
CAP. 02
CAP. 03
CAP. 04
CAP. 05
CAP. 06
CAP. 07
CAP. 08
CAP. 09
CAP. 10
CAP. 11
CAP. 12
CRONO LOGIA