Capítulo 10: O Desenvolvimento da Teoria Microbiana das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         É claro que desde a Antigüidade as infecções em feridas eram um importante problema médico. Hipócrates recomendava secar as feridas, pois "o estado seco é mais próximo do estado sadio, e o úmido mais próximo do estado de doença." Ele recomendava utilizar em feridas recentes o vinagre ou vinho, com substâncias adstringentes (como o alúmen). Celsus adicionou às receitas de Hipócrates o uso de óleo, mel e ervas como folhas de oliveira ou aloés. Galeno recomendava o uso de vinho, alúmen, água de cal, decocção de plantas adstringentes e vitríolo (sulfato de cobre) em úlceras malignas com putrefação. No período medieval, o médico árabe Rhazes obteve álcool pela destilação do vinho e o utilizou nas feridas. Albucasis recomendava o uso de cal viva.

         Utilizava-se também, na Idade Média, a cauterização de feridas com ferro em brasa ou com óleo fervente. Mas a cauterização e o uso de cáusticos (como a cal viva) foram praticamente abandonadas no século XVII, restando apenas as práticas mais suaves e tradicionais.

         Sob o ponto de vista dos conhecimentos atuais, sabemos que várias das substâncias utilizadas eram benéficas para o tratamento de feridas, destruindo ou dificultando a multiplicação de microorganismos e evitando desse modo as infecções. Os tratamentos eram empíricos, mas bastante eficientes.

         No início do século XIX, o tratamento de feridas com as substâncias tradicionais também foi abandonado. Como não se compreendia a natureza da infecção, nem havia explicação para os tratamentos utilizados, tudo foi tentado. Alguns autores ingleses recomendavam utilizar-se apenas água nas feridas. Outros, como Broussais, utilizavam óleo e farinha de linhaça. Com as tentativas de inovar, certamente os resultados eram piores do que os antigos. Como resultado, as práticas cirúrgicas do século XIX tornaram-se mais perigosas do que anteriormente.

         Lister conta que ocorriam muitos casos de piemia, erisipela e podridão de hospital entre os internados. Na sala de que Lister cuidava, essas "doenças hospitalares" apareciam principalmente quando a sala estava cheia de pessoas com lesões abertas. Quando havia fraturas sem lesão externa, ocorria uma diminuição dessas enfermidades. "Isso me pareceu ser uma prova evidente de que as emanações derivadas de escoamentos pútridos, distintas das que resultam da simples acumulação de seres humanos, formam a grande causa de insalubridade de um hospital cirúrgico." A situação enfrentada por Lister tinha certa semelhança com a febre puerperal estudada por Semmelweis. No entanto, ao invés de supor que a doença podia passar de uma pessoa para outra, ele imaginou que o problema estava no ar.

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