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No mesmo ano, Davaine publicou um trabalho comparando os efeitos de injeções
de substâncias podres com injeções de sangue com antraz.
Anteriormente, ele havia concluído que, no caso de substâncias
podres, havia simplesmente um veneno, que não se reproduzia no organismo.
No entanto, prosseguindo seus estudos, ele se convenceu de que os microorganismos
que produziam a putrefação de substâncias orgânicas
eram a causa da morte por septicemia. Em seus experimentos, tomou o sangue
contido no coração de um boi sadio, guardou-o durante dois
dias e, quando observou que estava apodrecendo, injetou-o em cobaias. Elas
morreram depois de poucos dias, e no seu sangue Davaine observou a presença
de muitas bactérias diferentes da do antraz: eram filamentos móveis,
do tipo chamado de "vibrião", enquanto as bactérias do antraz
eram imóveis.
Tomando o sangue das cobaias mortas, Davaine o injetou em novas cobaias
e observou que era possível transmitir sucessivamente a septicemia.
No caso do antraz, uma gota de sangue era suficiente para transmitir a
doença; no caso da septicemia, era necessária uma quantidade
maior, mas a doença também era transmitida.
Note-se como a pesquisa de Davaine era cuidadosa. Ele procurava investigar
todos os aspectos, fazer comparações, identificar os agentes
das doenças, fazer sucessivas transmissões a animais sadios,
etc. Nesse período, pode-se dizer que seu trabalho foi exemplar.
Apesar de todos esses cuidados,
o trabalho de Davaine não foi suficiente para convencer os mais
céticos. Um deles foi o influente pesquisador Claude Bernard (1813-1878).
Bernard aceitava que diferentes microorganismos podem existir e atacar
o homem, mas que o ponto essencial é o estado interno do organismo,
e por isso esses agentes podem estar presentes sem produzir efeito. Afirmava
que os vírus se desenvolvem muitas vezes no organismo e por isso
podem ser considerados mais como produtos da doença do que suas
causas. Acreditava que as bactérias do antraz podem se desenvolver
espontaneamente no organismo (sem infecção externa), embora
a doença possa também ser transmitida de um animal doente
para outros. |
Claude Bernard, um dos opositores de Davaine.
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