Capítulo 10: O Desenvolvimento da Teoria Microbiana das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Nesse período, o estudo mais completo e cuidadoso de microorganismos associados a doenças foi, sem dúvidas, o de Davaine. Após as investigações que já havia realizado sobre o antraz, ele continuou suas pesquisas, aprofundando-as e respondendo a novas objeções. Apesar de todos os testes que havia feito antes, permanecia a dúvida sobre se eram realmente as bactérias que produziam o antraz, ou se alguma outra substância do sangue poderia ser a verdadeira causa da doença. Davaine injetou sangue de um coelho doente em uma fêmea, no final da gravidez. A coelha ficou doente e morreu, mas o feto não mostrava sinais da doença e não foram encontradas as bactérias em seu sangue. É o próprio sangue da mãe que alimenta e permite a oxigenação do feto. Davaine percebeu que esse sangue era filtrado pela placenta, não havendo passagem das bactérias. Isso era uma forte indicação de que a doença era realmente causada por elas e não por alguma substância dissolvida no sangue.

         Davaine conseguiu depois reproduzir esse mesmo tipo de fenômeno artificialmente. Para isso, filtrou o sangue de um animal doente em um filtro de porcelana; verificou que o material retido no filtro, que continha as bactérias, transmite a doença; o líquido que atravessa o filtro e que não contém os corpúsculos não transmite o antraz. Era difícil objetar a esses novos experimentos.

         Em 1869, Davaine desenvolveu, com o auxílio de A. Raimbert, um estudo sobre a transmissão do antraz. Embora essa doença fosse, na época, mais comum entre os animais, havia uma doença humana semelhante, chamada às vezes de "pústula maligna". Os trabalhadores dos matadouros e curtumes eram às vezes acometidos por essa doença mortal e diziam que ela lhes era transmitida pelas moscas. Raimbert estudou os vários tipos de moscas que infestavam esses locais. Algumas delas se alimentavam de sangue, e ele imaginou que podiam ser realmente o veículo de transmissão da doença. Fez experimentos em que colocou sangue de animais doentes de antraz em um recipiente, verificando que esse tipo de mosca se alimentava do sangue. Estudou depois as moscas ao microscópio, verificando que fora de seu corpo e no seu interior havia bactérias do antraz. Esmagando diferentes partes do corpo das moscas, fez experimentos de inoculação em cobaias, que morreram de antraz. Isso mostrava que as bactérias ingeridas pelas moscas mantinham o seu poder e não haviam morrido. O estudo não mostrou, no entanto, que a picada das moscas realmente transmitisse a doença, nem que esse fosse o modo pelo qual a doença era de fato transmitida.

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