Capítulo 10: O Desenvolvimento da Teoria Microbiana das Doenças |
HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS |
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Surgiram, no entanto, objeções ao trabalho de Davaine. Poderia
ter ocorrido que o sangue contivesse alguma substância (um veneno)
capaz de produzir a doença; enquanto esse veneno estivesse começando
a atuar no organismo, o sangue ainda seria incapaz de transmitir a doença;
depois, quando o organismo já estivesse doente, o sangue se tornaria
carregado de veneno, pela sua deterioração e putrefação;
ao mesmo tempo, surgiriam as bactérias, que seriam um dos sintomas
e não a causa da doença.
No ano seguinte (1864), Davaine publica novo trabalho. Durante esse período, ele inoculou 150 animais, sempre com resultados idênticos. Observou que guardando durante algum tempo o sangue de coelhos mortos pelo carbúnculo e permitindo que o sangue apodrecesse, as bactérias eram destruídas. Tomando esse sangue apodrecido, Davaine injetou pequenas quantidades em coelhos sadios. Eles não adquiriram o carbúnculo e não surgiam bactérias no seu sangue. Quando a quantidade de sangue podre era grande, os coelhos inoculados morriam, mas com sintomas diferentes dos observados no antraz. Colhendo sangue desses coelhos, logo antes de sua morte, Davaine observou que ele não transmitia a doença a outros coelhos. Davaine concluiu que o antraz não tinha relação com o apodrecimento do sangue e que não era um veneno. A putrefação produzia algum tipo de substância tóxica ou venenosa, mas que não se transmitia por inoculações sucessivas. O carbúnculo, pelo contrário, sempre se reproduzia nas sucessivas inoculações, comportando-se como um ser vivo. Neste trabalho, Davaine utiliza a palavra "vírus" para designar a causa do antraz ou carbúnculo. Até essa época, como vimos, essa palavra era aplicada indiscriminadamente a uma grande variedade de influências mórbidas ou venenosas, incluindo o veneno das serpentes. No entanto, a partir desse momento começou a surgir uma diferenciação entre venenos propriamente ditos (que não se reproduzem e propagam de um doente para outro) e os vírus (que se propagam sucessivamente, como no caso da varíola). É claro que as bactérias de Davaine não eram vírus no sentido atual da palavra. Mas este foi um dos passos pelos quais se chegou à conceituação atual. |
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CRONO LOGIA |