Sob o ponto de vista sociológico, este episódio que estudamos
aqui é uma triste amostra de como, muitas vezes, os pesquisadores
estão mais interessados em si próprios do que na verdade.
Os cientistas não são anjos. São seres dotados de
vaidade, de agressividade, capazes de ocultar a verdade, de mentir, de
utilizar estratégias pouco dignas para vencer os adversários
e sobressair socialmente.
Sob o ponto de vista científico, por outro lado, a descrição
desse episódio permite também tirar algumas lições.
Vimos como foi difícil estabelecer que a doença dos bichos-da-seda
era causada por microorganismos. Por um lado, não basta observar
o corpo do animal e ver dentro dele certos corpúsculos para concluir
que esses corpúsculos são microorganismos que causam a enfermidade.
É preciso primeiro reconhecer que esses corpúsculos são
vivos; verificar se eles podem viver fora do organismo doente e se reproduzir;
se possível, identificar o seu tipo; e estabelecer a relação
entre eles e a doença. No caso estudado, desde o início ninguém
tinha dúvidas de que os corpúsculos eram ou causa, ou efeito
da doença. Mas, em princípio, poderia se tratar de outra
coisa: os corpúsculos poderiam ser microorganismos que invadissem
os bichos-da-seda quando eles estivessem debilitados pela enfermidade,
ao invés de serem a própria causa da doença. Por isso,
ainda teria sido necessário que Béchamp e Pasteur tivessem
aprofundado suas investigações, para esclarecer pontos como
este. |
O estudo dos bichos-de-seda por Agostino Bassi e, depois, por Béchamp
e Pasteur, conduziu à identificação dos primeiros
casos de microorganismos causadores de doenças.
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