Capítulo 10: O Desenvolvimento da Teoria Microbiana das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Béchamp procura estudar o processo de reprodução dos corpúsculos. Em março de 1867, ele publicou o resumo de um trabalho em que mostrava que esses corpúsculos se dividiam por cissiparidade, como vários outros microorganismos. No mês de abril, Béchamp apresenta à Academia de Ciências de Paris um trabalho mais desenvolvido sobre o mesmo assunto, com desenhos que mostram o crescimento, mudança de forma e divisão dos corpúsculos. Essa era a prova exigida por Pasteur para aceitar que os corpúsculos são parasitas, como vimos antes.

         Nesse mesmo dia, Pasteur apresenta também à Academia um pequeno trabalho em que anuncia ter mudado de opinião e aceitar agora que os corpúsculos eram parasitas. No entanto, o motivo da mudança de opinião de Pasteur não foi o trabalho de Béchamp. Pelo contrário: Pasteur nem cita o nome de Béchamp, mas anuncia que ele próprio, Pasteur, acaba de descobrir que os corpúsculos se dividem por cissiparidade no estômago dos bichos-da-seda.

         Na verdade, o trabalho de Pasteur era pouco conclusivo. Suas observações foram criticas por Balbiani. Mas, mesmo se suas observações tivessem sido perfeitas, a descoberta de que os corpúsculos se dividem dentro do estômago dos bichos-da-seda não provava que eram seres vivos independentes, nem que eram vegetais, nem que eram a causa da doença. No entanto, a partir desse momento, Pasteur considerou que havia provado rigorosamente que os corpúsculos eram parasitas e que eram a causa da pebrina.

         Nem neste trabalho, nem em qualquer outro posterior, Pasteur admitiu que Béchamp havia defendido antes dele, com excelentes argumentos e observações, a natureza parasitária dos corpúsculos do bicho-da-seda. Béchamp protestou, enviando uma carta à Academia de Ciências de Paris, na qual indicava toda a sucessão de trabalhos dele próprio e de Pasteur, mostrando de forma clara que ele e não Pasteur havia estabelecido a causa da pebrina. De nada adiantou. Dada a grande influência de Pasteur na época, o trabalho de Béchamp foi esquecido. E perpetuou-se, até hoje, a falsa história de que Pasteur, estudando os bichos-da-seda, fundou a teoria microbiana das enfermidades.

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