Capítulo 9: O Processo de Transmissão das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Na França ainda não se aceitava a idéia de que o cólera fosse contagioso. Chevreul relata que algumas pessoas corajosas, para testar a possibilidade do contágio, ingeriram os dejetos dos coléricos, vestiram suas roupas e deitaram-se em seus leitos sujos. Nada lhes ocorreu, concluindo-se então que a doença não era contagiosa.

         Chevreul, no entanto, não considera que o teste tenha sido definitivo. Poderia ser que essas pessoas destemidas não tivessem predisposição para a doença - e ela não ataca todas as pessoas. Por outro lado, poderia ser que as substâncias provenientes dos coléricos não produzissem a enfermidade enquanto estivessem frescas, mas apenas depois de algum tempo, quando começassem a desprender mau cheiro. Como vimos, os excrementos dos coléricos não possuem cheiro desagradável. Chevreul está, no fundo, se baseando na teoria dos miasmas, pois imagina que a doença poderia ser transmitida pelo mau odor que se espalhasse a partir da matéria em putrefação.

         Chevreul defende a idéia de que o cólera é contagioso, porém não tem provas disso. Indica que o modo de aparecimento, seu surgimento sucessivo em diferentes cidades, seguindo um trajeto determinado, parece mostrar que ele é transmitido por contágio. No entanto, enquanto não se encontrar o tipo de material que transmite a doença, isso é apenas uma hipótese. Por isso, Chevreul sugere que se faça um estudo detalhado do ar em volta dos doentes, de seus dejetos, e que se procure também a existência de microorganismos vegetais (micrófitos) ou animais (microzoários) nos dejetos dos coléricos.

         Como vimos, Pouchet há havia observado vibriões nos dejetos dos coléricos, mas não se deu importância à sua descoberta. A idéia de que a transmissão da enfermidade se dava pelo ar era muito forte. A Academia de Ciências de Paris formou uma Comissão para identificar o material transmissor do cólera. Seguindo a sugestão de Chevreul, imaginou-se que a doença poderia ser causada por microorganismos que flutuassem pelo ar. Nessa época, Louis Pasteur havia encontrado seres microscópicos no ar, capazes de produzir a putrefação de materiais orgânicos. Ele fez parte dessa Comissão, que durante meses recolheu e analisou a respiração e o ar em volta de doentes de cólera. Nada se descobriu. O fracasso foi repetido por um grupo inglês, que realizou análises químicas e microscópicas do ar nas alas de coléricos, em hospitais. A partir desses estudos, a idéia de que o cólera poderia ser causado por seres microscópicos foi abandonada, durante décadas.

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