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Podemos observar o estado de conhecimentos sobre o cólera no Brasil,
em meados do século XIX, através de grande quantidade de
publicações da época. Um interessante manual para
uso do povo foi publicado em 1855 pelo médico Tomás Antunes
de Abreu. Era um folheto vendido por 3$000 réis juntamente com dois
frascos de remédios para o cólera. Nesse folheto, o autor
indicava vários cuidados higiênicos que lhe pareciam importantes:
É inteiramente
nociva a aglomeração de muitas pessoas dentro de um pequeno
recinto, principalmente tendo que fechá-lo à noite; porque
o ar muito facilmente se corrompe, e não sendo renovado, causará
grande dano: portanto convém, que os Srs. Proprietários façam
apartar os seus escravos, dando-lhes acomodações mais espaçosas
do que as de ordinário. Estas habitações devem ser
colocadas em lugares secos, elevados, e arejados; devem ser abertas de
dia, limpas freqüentemente, e caiadas; e visitadas por quem possa
fazer observar estas regras, tendo o cuidado de não consentir nelas
a presença de roupa suja, e nem de qualquer outro objeto, que possa
exalar mau cheiro. As tarimbas [camas] devem ter de quatro a cinco palmos
de altura do chão.
Quando se der algum caso do
cólera, ainda mesmo não fatal, não se consentirá
que no respectivo aposento habitem outros indivíduos, sem que seja
ele primeiramente desinfetado por meio da água de Labarraque [cloro]
posta em bacias com água por espaço de 24 horas, findas as
quais se caiará, e por oito dias se conservará aberto dia
e noite, depois do que pode ser habitado sem receiar-se mal algum.
Nota-se que a preocupação essencial era com o ar.
O autor explicava o cólera como um "envenenamento miasmático".
Seu desenvolvimento seria favorecido pela umidade, calor forte, tempestades,
variações bruscas e consideráveis da temperatura do
ar. Os fatores individuais que predispõem ao cólera são:
indigestões, abuso de bebidas, comidas muito gordurosas, frutos,
tristeza, terror, cólera, "abuso do coito". |
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