Capítulo 9: O Processo de Transmissão das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Snow estuda o modo como apareceu e se espalhou a doença, para tentar compreender o modo de transmissão. Ele conta que, em 1832, o cólera apareceu em uma aldeia inglesa, em York, aparentemente sem causa nenhuma. No dia 28 de dezembro desse ano, um lavrador, John Barnes, teve forte diarréia, convulsões, e no dia seguinte estava morto. A esposa do lavrador ficou doente, mas não morreu. A sua mãe, que cuidou dela e lavou suas roupas, ao voltar para casa, sentiu tonturas e caiu. Dois dias depois, ela, o marido e a filha morrem. Aparentemente, a doença de John Barnes havia sido transmitida à esposa e à sogra, e desta à sua família. Mas como o próprio John Barnes havia adquirido a doença, se ninguém na região tinha tido cólera? A investigação do caso mostrou que a irmã de Barnes havia morrido de cólera, 15 dias antes, em Leeds. Como ela não tinha parentes na cidade, suas roupas haviam sido colocadas (sem serem lavadas) em um baú e haviam sido enviadas para o irmão, John Barnes. Ao receber o baú, ele o abriu e examinou as roupas. No dia seguinte ficou doente e, no outro, morreu. "Alguma coisa" que havia ficado nas roupas deve ter produzido a morte de Barnes, 15 dias depois. E "alguma coisa" deve ter depois passado de Barnes para a esposa, desta para a mãe, etc.

         Em seu livro, Snow conta que o primeiro caso de cólera em Londres, na epidemia que começou em 1848, foi de um marinheiro, chamado John Harnold, que havia chegado de Hamburgo, onde a enfermidade já havia se espalhado. O marinheiro morreu no dia 22 de setembro de 1848, em uma hospedaria, com todos os sinais do cólera. Durante alguns dias, não houve outros casos. Mas na semana seguinte, uma pessoa que se hospedou no mesmo quarto em que Harnold morreu, ficou doente, morrendo no dia 30 de setembro. "Alguma coisa" devia ter ficado no quarto, produzindo a morte da segunda pessoa.

         Nem sempre, no entanto, era necessário um contato direto com um doente ou com seus objetos para que o cólera fosse transmitido. Em alguns casos, a doença atingia muitas os moradores de várias casas vizinhas, sem que tivesse havido contato direto entre eles. Parecia que o agente causador do cólera podia se transmitir até uma certa distância dos doentes.

         A partir de muitos casos como esses, as primeiras conclusões que se tirava, na época, era que o cólera pode passar de uma pessoa para outra; mas nem sempre o contato com um doente, ou ficar no quarto de um doente, produzia a enfermidade.

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