Capítulo 9: O Processo de Transmissão das Doenças

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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Por causa da tendência anatômica da Escola Médica de Viena, os professores, assistentes e estudantes freqüentemente têm a oportunidade de entrar em contato com cadáveres. As partículas cadavéricas que se prendem às suas mãos não são removidas pelo método ordinário de lavar as mãos com sabão, como é mostrado pelo cheiro de cadáver que as mãos mantêm durante um tempo mais ou menos longo. Durante o exame das grávidas, parturientes ou puérperas, a mão contaminada pelas partículas cadavéricas é colocada em contato com os órgãos genitais dessas pessoas e por isso existe possibilidade de absorção e, por meio da absorção, deve-se postular a introdução de partículas cadavéricas no sistema vascular dessas pessoas. Por este meio, produz-se nas puérperas a mesma enfermidade que vimos em Kolletschka. 
         Ou seja: na morte de Kolletschka, assim como na febre puerperal, a causa é a mesma: introdução de material em putrefação no interior do corpo - por uma ferida, ou pelos órgãos genitais.

         Note-se que Semmelweis está utilizando algumas idéias antigas. A relação entre mau cheiro e produção de doenças deve ter orientado sua atenção para a falta de asseio após as dissecações. A noção de que os materiais em putrefação produzem algum tipo de veneno também era conhecida. O elemento novo é o transporte desse material venenoso pelos próprios médicos.

         Note-se que Semmelweis não está supondo a existência de um contágio, propriamente dito. Ele acreditava que o material em decomposição de qualquer cadáver, independentemente da causa de sua morte, era capaz de produzir a febre puerperal. De certa forma, portanto, sua concepção era semelhante à dos miasmas, que também não eram específicos.

         A hipótese de Semmelweis explicava a diferença observada entre a Primeira e a Segunda Clínicas. Na Primeira, tinham acesso os estudantes de medicina. Na segunda, eram treinadas apenas as parteiras. Os primeiros realizavam autópsias; as segundas, não.

         Vários fatos se tornaram significativos, de repente. As pessoas que tinham seus partos em casa eram em geral atendidas por parteiras, ou clínicos que não praticavam autópsias, e por isso não eram contaminadas.  As mulheres que entravam no hospital já depois do parto, não eram examinadas como as demais, por isso o risco de febre puerperal era muito menor.

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