Capítulo 8: Miasmas ou Microorganismos?

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Donné procurou verificar se as secreções das doenças venéreas possuiam a capacidade de produzir novamente a doença. Para isso, inoculou sob a epiderme as secreções de diferentes tipos e observou que apenas o pus do cancro (o único que apresentava vibriões), quando inoculado, produzia pústulas no local. Esses resultados sugeriam fortemente que o vibrião fosse a causa da doença.

         No ano seguinte (1837), os médicos Beauperthuy e Roseuville confirmaram a presença de "pequenos animais" no pus do cancro e de outras doenças venéreas. Também observaram microorganismos em excrementos de doentes com febre tifóide, e na urina de pessoas com cálculos renais. Notaram ainda alterações dos glóbulos de sangue, em algumas doenças. No entanto, o relato desses médicos é muito sucinto, não permitindo perceber exatamente o que eles haviam observado.

         Os mesmos pesquisadores estudaram, em 1838, o processo de putrefação de animais mortos. Descreveram o gradual surgimento de microorganismos (mônadas e vibriões), cujo número vai aumentando, à medida que o organismo se decompõe. Quando a quantidade de microorganismos é muito grande, o material em decomposição se torna alcalino, e surge o cheiro característico dos materiais podres. Esses estudos pareciam indicar que a produção dos infusórios ocorre antes da decomposição das substâncias, sendo a causa e não o efeito desta. O cheiro de substâncias podres poderia ser também apenas um efeito da ação dos microorganismos, o que enfraquecia a idéia dos miasmas.

         Nessa mesma época (1837 e 1838), há um importante trabalho, que inicialmente não tinha relação com doenças, mas que logo se verá ser essencial para a compreenção das mesmas. Foi um estudo de Cagniard-Latour sobre a fermentação da cerveja. Os cervejeiros preparavam inicialmente um caldo de cevada, no qual era colocada certa quantidade de fermento (levedo de cerveja). Esse levedo, visto ao microscópio, parece ser simplesmente um pó, com partículas arredondadas. Quando o levedo é colocado no caldo de cevada, mantido a uma temperatura adequada, o líquido começa a fermentar e espumar, produzindo-se a transformação de açúcar em álcool e gerando a cerveja.

         Nesse processo, produz-se na superfície da cerveja uma grande quantidade de levedo, que é recolhido para ser usado depois. A quantidade de levedo final pode ser cinco ou mais vezes superior à quantidade inicial - ou seja, o levedo parece se reproduzir. Estudando o processo, Cagniard-Latour conseguiu observar ao microscópio que as partículas do levedo eram "corpúsculos capazes de se reproduzir, e conseqüentemente organizados, e não uma substância inerte ou puramente química, como se supunha". Como esses corpúsculos não eram dotados de movimento próprio, Cagniard-Latour os considerou como vegetais microscópicos. Ele observou que essas partículas participavam da transformação do açúcar em álcool e que só produziam a fermentação quando estavam vivas: podiam ser destruídas pelo calor, mas permaneciam vivas mesmo a temperaturas negativas ou quando secas.

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