Capítulo 8: Miasmas ou Microorganismos?

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         A partir da década de 1830, começam a surgir indícios muito fortes a favor da idéia de que parasitas microscópicos ou visíveis podem ser a causa de doenças. Este foi o início da fase moderna da chamada "teoria microbiana das doenças".

         O primeiro caso em que se detectou um microorganismo que ocorria em uma doença foi no estudo de uma praga do bicho da seda. Em 1835, Agostino Bassi estabeleceu que esses insetos morriam quando infectados por um fungo microscópico, que foi mais tarde denominado Botrytis bassiana em sua homenagem. Bassi compreendeu que a doença dos bichos da seda era transmitida por contato ou por comida infectada e desenvolveu medidas profiláticas apropriadas. Embora não tenha feito estudos de outras enfermidades, na mesma época Bassi desenvolveu a hipótese de que as doenças contagiosas - entre as quais incluia o cólera - são devidas a parasitas vivos.

         A observação de Bassi permaneceu, no entanto, como um caso isolado e à qual se deu pouca importância, na época.

         Ehrenberg, famoso microbiologista alemão (1795-1876), escreveu em 1836 uma obra sobre os seres microscópicos que são observados em substâncias em putrefação - os infusórios. Nesse trabalho, ele afirma:

Os infusórios invisíveis são ocasionalmente daninhos, mas apenas, pelo que parece, matando peixes em tanques, tornando a água turva, produzindo cheiros desagradáveis e assustando pessoas supersticiosas. É improvável que eles causem malária, praga e outras doenças - e isso nunca foi mostrado de modo seguro. Durante a epidemia de cólera em Berlim, em 1832, não vi nenhum fenômeno anormal nas águas nem na atmosfera. É verdade que existem minúsculos insetos na sarna e no pus. Mas todas esas coisas, como (...) os animalúnculos do cólera, consistem apenas em afirmações ou suposições.
         Logo a afirmação de Ehrenberg seria derrubada pela observação. As primeiras relações entre doenças humanas e microorganismos foram confirmadas pelo estudo microscópico em 1836, por A. Donné. Ele estudou doenças venéreas de homens e mulheres, analisando ao microscópio as secreções dos órgãos sexuais dos doentes. Na sífilis e na blenorragia (gonorréia), ele não notou nenhum microorganismo. No cancro ou balanita, observou um "animálculo" que identificou como Vibrio lineola. Nas mulheres com vaginite, descobriu a presença de flagelados desconhecidos, para os quais propôs o nome de Tricomonas vaginalis. Observou que o muco vaginal, que normalmente é alcalino, adquiria um caráter ácido e, posteriormente, recomendou o uso de duchas alcalinas contra a vaginite.
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