Capítulo 8: Miasmas ou Microorganismos?

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         Na década de 1830, a peste bubônica, iniciando-se no Egito, espalhou-se pelos países vizinhos. Discutia-se se ela era contagiosa ou não. O doutor Bullard, que estudava a doença, realizou testes extremamente perigosos, em Esmirna. Vestiu-se com roupas de pessoas que haviam morrido de peste, deitou-se no leito deles, e inoculou-se com o pus dos bubões. Utilizou o mesmo procedimento com dois prisioneiros, condenados à morte. Os dois prisioneiros morreram, em uma semana. O doutor Bullard, porém, nada sentiu. A conclusão tirada foi de que não existia a contágio e que era inútil qualquer medida de proteção contra a peste, como a quarentena.

         Era difícil tirar alguma conclusão a partir desse teste. Por um lado, uma pessoa podia permanecer sadia apesar de todas as tentativas de transmissão da enfermidade. Outras duas pessoas haviam morrido, mas podia não ter sido por contágio. Talvez a atmosfera estivesse infeccionada e algumas pessoas adquirissem a enfermidade e outras não, dependendo de sua constituição física, independentemente de ter contato com doentes.

         Era igualmente difícil testar as hipóteses sobre a influência do clima ou da atmosfera nas epidemias. Em 1831, a Academia de Ciências de Paris, juntamente com a Academia de Medicina, formou uma comissão encarregada de dar um parecer sobre a questão: "Se é possível descobrir uma ligação apreciável entre os fenômenos meteorológicos e o desenvolvimento ou propagação do cólera". Três anos depois, a comissão declarou que, no estado dos conhecimentos da época, era impossível chegar a uma solução desse problema. Ou seja: não se podia nem afirmar que havia, nem afirmar que não havia relação entre clima e epidemias.

         A antiga teoria de Santorio, de que a redução da transpiração, causada pela umidade, podia produzir graves doenças, foi estudada novamente nesse período. Em 1838, o médico Fourcault realizou experimentos para verificar se a supressão artificial da transpiração podia ocasionar doenças. Ele recobriu a pele de animais com verniz e outras substâncias que fechavam todos os poros. Quando toda a pele ficava recoberta, os animais morriam. Quando apenas uma parte da pele era coberta, surgiam inflamações, tubérculos e outros sinais patológicos. Esses experimentos pareciam confirmar, portanto, a teoria de Santorio.

         Paralelamente às discussões sobre existência do contágio, o início do século XIX presenciou o surgimento de muitos outros estudos médicos. Apenas para citar um exemplo, uma das teorias mais populares do período foi a "medicina fisiológica" de François Joseph Victor Broussais (1772-1838).

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