Capítulo 8: Miasmas ou Microorganismos?

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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Assim, os médicos e enfermeiras são os propagadores e comunicadores mais certos e freqüentes do contágio do cólera. Apesar disso, todos, mesmo os jornais públicos, se espantam de como a infecção pode se espalhar tão rapidamente, desde o primeiro dia, do primeiro paciente de cólera em uma extremidade da cidade a pessoas na outra extremidade da cidade que não chegaram perto do paciente. 
         Evidentemente, essa sugestão de Hahnemann não agradou nem um pouco à classe médica da época. Hahnemann estava certo: de fato, existem portadores de doenças que são aparentemente sadios. Mas isso só foi de fato estabelecido várias décadas depois, quando o processo de transmissão foi esclarecido.

         A discussão sobre o contágio das enfermidades tornou-se muito importante por ocasião das epidemias. Era essencial saber se uma enfermidade era contagiosa ou não, para tomar medidas de segurança contra sua propagação.

         Pierre Bretonneau (1771-1862) foi um dos grandes defensores da existência do contágio, no início do século. Ele considerava a difteria e febre tifóide como contagiosas. Ao estudar a epidemia de difteria de 1818-20, Bretonneau propôs que as doenças transmissíveis são específicas, desenvolvendo-se através de um agente que se reproduz. O agente do tifo, segundo ele, seria "um ser miasmático que se prende e adere às secreções mórbidas". Bretonneau compara o "ser miasmático" a uma semente vegetal, que consegue reter sua capacidade de germinar durante longos períodos.

         Em 1834-5, Gendron descreveu epidemias de febre tifóide e defendeu que ela é contagiosa, pois passava de um membro da família para outro. Concluiu que se espalhava por contágio, "envenenando por um princípio desconhecido e impalpável conhecido como miasma". Mas Bretonneau, Gendron e outros autores da época não conseguiam mostrar a existência do contágio.

         Imaginou-se, na época, um teste crucial para decidir se uma doença era contagiosa ou não: verificar se era possível transmitir a enfermidade pela inoculação, como no caso da varíola. Foram feitos testes de inoculação da difteria e de algumas outras doenças, sem nenhum resultado. Isso aumentou muito a descrença na existência de contágio. No entanto, o teste não era decisivo, pois sabia-se que, mesmo no caso da varíola, somente era possível transmitir a enfermidade inoculando-se uma pessoa com líquido tirado das pústulas em certa fase da doença.

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