Capítulo 8: Miasmas ou Microorganismos?

CONTÁGIO

HISTÓRIA DA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

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         A certeza, infelizmente, é muito perigosa na Medicina. Vapores ácidos, pelo que sabemos atualmente, podem ser excelentes desinfetantes, mas não são úteis às pessoas doentes.

         Ao falar sobre as águas de lagoas e pântanos, Mello Franco defende uma interpretação química dos miasmas. Ele supõe que a causa das febres palustres seriam simples compostos de nitrogênio (azoto) e hidrogênio:

As águas das lagoas, e charcos são turvas, grossas, amareladas, limosas, e com cheiro semi-pútrido. Não podem servir para a bebida dos animais; mas os agricultores reputam-nas excelentes para a rega. Nestas águas, em particular no verão, continuamente apodrecem vermes, insetos, e vegetais; e delas exala-se sempre amoníaco, e gás hidrogênio azotizado, que parece ser o princípio das febres remitentes, e intermitentes, e das desinterias biliosas, e podres, que reinam nos sítios cobertos de águas encharcadas.
         Embora a interpretação puramente química não nos pareça atualmente ser correta, Mello Franco, como outros higienistas da época, apresenta recomendações de bom senso: seria necessário, para evitar as enfermidades palustres, acabar com os pântanos, secando-os e cultivando a região.

         É muito interessante que Mello Franco recomende que se ferva a água impura, quando for necessário utilizá-la para beber. Para nós, esse tipo de procedimento é justificado pela destruição dos microorganismos vivos que podem existir na água. Na época, no entanto, a justificativa era outra: libertar a água de sólidos dissolvidos nela e, principalmente, produzir a evaporação dos miasmas.

Resta-nos advertir, que quando formos obrigados pela necessidade a usar de águas menos boas, a que costumam chamar cruas, devemos faze-las ferver, e deixá-las depois ao ar livre por 36 a 48 horas em vasilhas de barro largas, para que a água apresente ao ar uma grande superfície. Por este meio os sais se depositarão, e os miasmas nocivos se volatizarão.
         Nem sempre era possível purificar a água pela fervura. Nas longas viagens de navios, por exemplo, a água guardada durante semanas ou meses em tonéis de madeira costumava se estragar, ficando com um cheiro podre. Era impossível ferver essa água. Nesses casos havia sido desenvolvido um outro procedimento: a purificação por pó de carvão (ou seja, o "carvão ativado" que se utiliza hoje em dia nos filtros domésticos de água) e a acidificação da água.
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