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sendo de antes
tão saudáveis no clima e ares como a experiência imemorial
nos certifica, me pareceu, consideradas todas estas circunstâncias
e animado do discurso e ponderação que me persuade que os
ares não são os que padecem nem contêm em si a má
qualidade senão as casas e as covas e muito mais as roupas e tudo
o que serviu aos doentes, ordenar a vm. [Vossa Mercê] queira por
serviço de Deus e de S. Magestade e por remédio dos forasteiros
que de novo vierem na frota ou do recôncavo a estas duas povoações
fazer um papel com toda a distinção no qual se declare em
primeiro lugar as causas próximas e que atualmente influem esta
pestilencial qualidade senão as casas e as covas e muito mais as
roupas, (digo) pestilencial qualidade, e em seguida o remédio preservativo
delas assim para as pessoas que ainda não padeceram o mal como para
as casas em que atualmente adoecerem e para as covas em que se enterrarem,
para as limpezas das ruas, para a queima das roupas e para tudo o mais
que vm. julgar ser conveniente para a prevenção e remédio
futuro, porque estou pronto para o mandar executar, ponderando o peso e
razão em que o dito remédio se deve fundar. Deus guarde a
vm. muitos anos. Olinda 19 de abril de 1691. Marquez de Montebello.
Atendendo ao apelo do Marquês, o médico João Ferreira
da Rosa estudou a doença, logo chegando à total compreensão
de sua natureza:
É esta febre
uma febre essencial, mui maligna e perniciosa, produzida não somente
de intemperança, e calor podre, mas infestada com uma maligna e
venenosa qualidade que se imprime no sangue e na cólera [bilis]:
os quais humores alterados e apodrecidos são a causa material desta
febre; a parte afetada são as veias, segunda região do corpo,
de onde se comunicam os vapores malignos ao coração, objeto
principal do veneno, à cabeça, ao estômago, às
tripas, e ainda às partes carnosas e âmbito do corpo; e desta
sorte esta febre maligna ou quase pestilente, não é simplex,
mas complicada com outra febre, ora podre, ora intermitente (...)
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